A capa de chuva



Ao entrar na sala vê a capa de chuva próxima à porta. Já tinha chegado. Pegou a chuva pesada que caíra há pouco – pensou.

Sem saber o que fazer, totalmente perdida, caminha até o bar. Fala baixinho: ¨ Não queria que fosse assim...¨. O copo nas mãos, sem ainda tocar na bebida, decide deixá-lo à mesa de vidro no centro da sala.

Ao se virar, pega-se olhando no espelho. Percebe o desespero em seu rosto. Sabia que seria difícil enfrentar aquele momento que adiara por tantas vezes; quando se volta, dá de frente com sua cara-metade parada, no meio da sala, muito próximo dela. Sem dizerem nada e, por longos segundos de silêncio se encaram. Silêncio, somente quebrado, por um adeus baixinho de quem partiria.

A porta bate e, os passos de quem saíra, vão diminuindo, até desaparecer por completo, para o desespero de quem ficara.

A angústia permaneceu naquela linda sala e, sem querer acreditar na partida, fixa-se na capa de chuva esquecida próxima à porta; em passos curtos, vai até ela; ao tocá-la, nota que está quase seca e a água que há pouco existira, fora parar no assoalho, formando uma poça na qual a imagem, de quem partira, ocupara toda a lâmina d´água.


Paulo Francisco

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