Exagerado



Eu exagero em muitas coisas. Coloco mais açúcar que deveria no café, por exemplo, e aí, me obrigo a bebê-lo sem mexê-lo com a colher. Quando chego ao último gole, sinto-o mais denso e doce. Olho para o fundo da xícara e vejo que desperdicei uma quantidade razoável daquela substância tão gratificante.

Eu não consigo dosar - ou muito doce ou muito amargo. Eu sei que a quantidade de açúcar na xícara é maior que o café colocado nela, mas eu sou assim mesmo, prefiro o excesso à falta.

Nos últimos tempos, mudei o ritual do café - não começo mais pelo açúcar - coloco primeiro o líquido. Não encho até a borda da louça, tenho medo de entornar e manchar ao redor. Cuidadosamente, vou colocando o pó brilhante e aos poucos vou mexendo. Verdadeiramente, antes mesmo de colocar o açúcar, eu provo um pouco do líquido quente e amargo. Sorvo-o lentamente, sentindo-o entre meus lábios, para depois com cuidado, derramar o açúcar.

Agora, quando chego ao final da bebida, olho para o fundo da xícara e vejo uma leve mancha misturada ao pouco açúcar que restou no fundo. Percebo, então, que cheguei ao fim na medida certa, sem exagero ou falta. Sinto que o liquido que tanto gosto não foi desperdiçado. Às vezes, fica tão bom que peço uma outra dose, só para fazer o ritual todo de novo.

Claro que às vezes passo dos limites e deixo transbordar o café. Outras, a dose de açúcar é mais que necessária. Algumas, por mais açúcar que coloque estará sempre amargo.

Eu exagero em muita coisa, mas esse negócio de açúcar e afeto estou aprendendo a dosar.



Paulo Francisco



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