Bailado

A dor já morava em seu corpo. Ela se contorcia; se esticava languidamente. Ninguém percebia seu sofrimento, a sua dor. Nada poderia dar errado! Cabisbaixa, em passos lentos e longos, desfilava naquele piso de madeira. Era única na arte do silêncio. De repente uma corrida em circulo, seus braços abertos pediam socorro, mas nenhum ruído além de uma suave música imaginária. Ela estava só. Só com seus pensamentos e desejos; só com sua técnica de pular, rodar, correr e sofrer sozinha. Um pulo e um susto - ela caíra desfalecida naquele negro piso. E depois de alguns segundos movimentava-se suavemente, esticava-se num espreguiçar gostoso de quem acordara de um lindo sonho e começava a rolar, a rolar, a rolar... cada vez mais rápido. A coreografia frenética se transformara num desesperado ataque de ombros e pernas – uma convulsão. Um total silêncio se fazia naquele ambiente tão hostil. Ela parara, ficara imóvel. Morrera!Tudo se tornara negro.
E quando a branca luz retornava, centenas de expectadores aplaudiam de pé a bailarina contemporânea.





Paulo Fancisco

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