Delírios


Lá estava ela sorrindo. Sorria pra mim, pra mais ninguém. Eu era um homem de sorte, aquela boca e aquele olhar exclusivamente meus. Andamos de mãos dadas, caminhamos de pés descalços na areia da praia – ela tem uns pés lindos.
Afaguei seus cabelos, madeixas aveludadas que acariciavam as minhas mãos. Ganhei na loteria e não sabia.
O céu era mais azul, a tarde era mais sedutora. Fogueira na praia ao anoitecer, estrelas desenhando figuras exclusivamente nossas!. Batizamos cada uma delas.
Tudo perfeito. A brisa, suave, batia em sua pele fazendo-a sentir um pouco de frio. Cedi-lhe a minha jaqueta – eu era forte.
Tudo perfeito. Cenário perfeito. Mulher perfeita. Casal perfeito. Olhava para os lados e não conseguia ver ninguém conhecido, como poderia ser tão perfeito e nenhum conhecido, nenhuma câmera e nenhum celular para registrarem este momento único.
Vejo um vulto e vou até ele. Quem sabe não tem uma câmera? Nada. Ilusão de ótica.
Ela se afasta. Vai se afastando. Cada vez mais longe. Tento correr mais a areia molhada impede os meus movimentos. Caio, me arrasto, engulo a água salgada... tento me levantar e, quando consigo não mais a vejo. Ela some na neblina densa. Fico louco, grito: Juliaaaaaaaaa!!! Juliaaaaaaaa!!!! Silêncio. Ela não mais está em meu sonho. Acordo assustado e vejo a televisão ligada e os créditos finais de Sleeping with the Enemy
Eu já tinha visto este filme antes.

Paulo Francisco


Um comentário:

  1. Olá amigo Paulo Francisco, lindo conto, mas é mesmo assim, sonhos que acabam em nos deixar com essa sensação de vazio, pena né?
    Delírio mesmo!
    Abraços!

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