¨I just call...¨

O som do telefone se confunde com o violão de James Taylor. A casa estava respirando sons dos anos setenta quando o telefone tocou – era ela.

- Pronto! Respondi sonolento. Era fim de tarde e estava descansando depois de um dia puxado de trabalho. Acordei muito cedo e ainda sentia a diferença em meu fuso horário – Todos sabem o quanto me custa acordar cedo.

A voz do outro lado indicava que algo acontecera. Não era comum telefonema àquela hora. Sua voz pequena e curta anunciava tristeza, chuva miúda numa tarde de outono.

Fiquei esperando o seu texto. Mas pra surpresa minha, ela só queria ouvir minha voz.

Verdadeiramente, ela não só queria ouvir a minha voz, ela queria ter certeza de minha existência – segundo ela.

Depois que ela desligou, fiquei pensando como uma voz pode ter o poder de acalmar. Naquele momento James Taylor ainda invadia os cômodos de minha alma.

A voz que mais me acalmava, quando criança, era a voz de minha mãe. A certeza de sua existência, ali pertinho, deixava-me tranqüilo, não tinha medo de fantasmas e nem de ladrão.

No Hospital, a agulha da injeção, ou o estetoscópio frio não me intimidava, porque a voz dela estava ali, me acalmando.

Cresci e a voz da garota da vez era a minha certeza. Hoje, a voz de meu filho é o meu melhor calmante e, a voz de alguns amigos me tira sorrisos.

O som acabou. O silêncio também faz parte de minha vida.

Peguei o telefone e liguei pra ela. A reciprocidade é verdadeira.


Paulo Francisco

2 comentários:

  1. Que delícia tem sido suas crônicas!
    leio todas.
    Só ainda não tenho certeza da sua existência_qualquer dia também ligo,ok?

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  2. Fiquei esperando o seu texto. Mas pra surpresa minha, ela só queria ouvir minha voz.
    Peguei o telefone e liguei pra ela. A reciprocidade é verdadeira.

    Oi lindo amei.
    Eu também postei um texto parecido com o seu.
    Eu quero não ter que sentir saudades sua. Eu quero voltar escutar a sua voz, aquela voz que todos os dias falava comigo por telefone.
    Com certeza temos algo em comum.
    Beijinhos.

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