Esconderijo


Era a maior felicidade do mundo quando encontrava o que eu achava ter perdido.  Obviamente não o tinha perdido, simplesmente esquecia onde estava guardado. Foi assim a minha vida inteira. Entrava em desespero pelo menor descuido. Tornava-me um louco à procura do invisível.

A sensação da perda é indescritível. O desespero batia forte na alma. Mostrava-me desequilibrado e mais perdido que a minha própria perda momentânea.  Próprio de quem anda distraído.

Sentir-se perdido. Era desesperador quando a mão de quem me segurava e me guardava escapava de mim. Olhava ao redor e um vazio ocupava o meu peito pelo medo do desconhecido. Tudo ficava distante e ao mesmo tempo grande, monstruosamente grande.

Antes eu gritava e chorava até ser encontrado. O meu grito e o meu choro serviam de alerta. Eram sinais enviados ao mundo que eu estava literalmente perdido. Eu ainda choro. Mas somente quando estou só. Choro sozinho pra não ser achado. Choro e grito por um amor partido, por um amor perdido. Choro pelo abandono.

Hoje, eu encontrei algo que há muito estava esquecido. Fiquei surpreso por encontrá-lo num lugar tão obvio em minha vida. Foi a maior felicidade do mundo quando eu encontrei o que achava estar perdido pra sempre. Obviamente não o tinha perdido, simplesmente esqueci-me de onde o tinha guardado – em meu coração.



Paulo Francisco

4 comentários:

  1. Gostei muito de ler seu texto ele é tudo de bom.
    Lindo esse seu amor, mas você resolveu guarda-lo em seu coração.
    Já parou pra pensar que poderia ser feliz?
    Um abraço.

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  2. Lindo de ler e fácil de entender, os apegos e os abandonos, a sensação de se estar perdido, de ter perdido algo ou alguém, mas o pior das perdas em meu entender é o perder-se de si mesmo!
    Estás bem aí, dentro do seu coração, você, meu amigo querido de alma linda!
    Abraços!

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  3. Realmente é um lindo texto!
    Boa tarde.

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  4. Ah, meu amigo! Encontrar o coração. Existe ventura maior? Desconheço. Parabéns pelo texto, sua prosa poética é tudo de bom! Bjs Marli

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