Emoção





Quando leio Pessoa eu suspiro. Já o Drummond me faz sorrir. Clarice tira de mim sempre uma exclamação impublicável. Fico doce com Cecília. Florbela me diz amor de uma forma única.  Mas quem me desopila mesmo é a Cora Coralina. Ao recitar alguns poemas de Cora para um grupo de jovens-adultos numa escola noturna do Estado, eu me acabei em lágrimas no final do recital. Não sabia se as palmas eram para a Cora ou era para aliviar o meu peito emocionado. Quanto mais eles aplaudiam, mais eu chorava, como agora, ao lembrar-me daquele momento e dos poemas de Cora Coralina. O engraçado que muitos me acompanharam na emoção. Foram tantos abraços mixados entre sorrisos e choros que parecia uma catarse geral codificada em poemas e prosas. Ano passado, a convite, recitei Florbela Espanca - projeto de uma escola do Estado. A escola fica no lugar mais alto de minha cidade. Ali eu não chorei. Simplesmente abri para o amor. Dizem que eu me fecho para o amor. Claro que não me fecho, simplesmente não permito que os vagabundos se instaurem. Conheci um amor que aparentemente seria o dono de meu coração de papel passado e tudo. Mas o danado do amor era tão egoísta, tão desequilibrado que achou que podia além de dono ser também torturador de mim. Amor nenhum tem o direito de torturar. Claro que ele não ficou. Dei passagem ao danado.O coração é meu, só permanecerá nele quem eu permitir. Meu coração está aberto, abertinho, livre pra amar. Ele só não aceita relocatários. Enquanto isso, eu vou lendo Vinicius – é o melhor a fazer.

Paulo Francisco