Armadilha



Era laço pra enfeitar. Demorei a aprender  fazer o laço no cadarço do sapato. Nunca ficava perfeito.  Andava olhando pra baixo na esperança dele não desmanchar antes de chegar à escola. Certamente me atrasaria por ficar agachado tentando fazer o laço mal feito. Acredite se quiser, mas até hoje eu tenho dificuldade de fazer um laço que dure. Gosto da praticidade e da leveza dos mocassins – bela invenção indígena. Os mocassins não exigem de mim habilidades que não tenho. Sou desajeitado por natureza.  Deixo os laços para quem gosta de fazer arranjo.

Cadê as bolas coloridas que enfeitavam essa árvore? O natal daquele ano foi de laços de fita vermelha. Charmosa, moderna e feminina. Foi demais pra mim. Mas quando não se mora sozinho tem que saber que não se ultrapassa em faixa amarela contínua, principalmente de mão dupla. Nada de colisão por causa de um laço temporário.

Era laço pra brincar.  Os filmes mais concorridos nas salas de cinema eram os de faroeste norte-americanos e os famosos macarrônicos. Ficávamos imitando os caubóis tentando enlaçar um ao outro com pedaços de corda velha. Era divertido quando conseguíamos o feito. Difícil, mas divertido.

Está escrito: laço é nó corredio facilmente desatável com uma, duas ou mais alças. Adorava puxar os laços de cetim que enfeitavam os cabelos das meninas. Há quem faça o laço perfeito. Há quem consiga manter um laço por muito tempo. Têm laços que depois de atados nunca mais se desfazem – são raros, mas existem. Ficam desbotados, amarrotados, perdem o viço, mas continuam ali com suas alças e pontas. Mas também está escrito que laço é armadilha, rede para apanhar caça.  Para muitos é presente, para poucos é fortuna e para outros é prisão.

Quando olhei para os seus pés vi um laço brilhante enfeitando o seu sapato. Era laço pra enfeitar. Ou seria laço pra seduzir?  Sorri um sorriso maroto. Era laço pra enfeitiçar.