O vento que surgiu na minha
varanda agitou tudo. Tremulou as coisas e arrepiou a alma. Carregou consigo as
nuvens e os meus pensamentos. O céu se mostrou mais azul e meus olhos mais
castanhos – talvez por ter levado a chuva para além da montanha e as lágrimas para
outro lugar.
Ontem, não queria me levantar, um
tipo de paralisia emocional. Estiquei as pernas ao máximo. A coluna seguiu meus
braços longos e finos numa tentativa inútil de sair daquela posição protetora e
infantil. A fumaça engolida, inflava os
meus pulmões e viajava pelas artérias em sonhos e ventania. Segurei na cauda do
vento e deixei levar-me para além do halo que cerca meus olhos marrons. Gosto
das figuras formadas nesse meu céu inventado. E quando tudo acaba, estou menos
pesado e mais flexível. Mas nada disso conta se a pele que estou vestindo não
suporta o frio invasor que insiste em visitar-me nas madrugadas embaçadas –
volto ao denso líquido amniótico na esperança de libertar-me do imenso emaranhado
existente. O sonho me é sagrado somente quando nele você está.
Às vezes, prefiro o sono
silencioso, sem personagens e paisagens. Acordar sem a lembrança do ontem.
Começar a vida quando os meus pés tocarem o piso de madeira do meu quarto.
Às vezes, prefiro levantar-me sem
a certeza de nada. Seguir a vida levado pelo vento. Cobrir-me de nuvens e regar
o chão por onde piso.
Às vezes, prefiro continuar no
ninho, coberto pelas palhas soltas e protegido da incerteza do mundo. Ando meio
cansado de tudo.
Às vezes, acordo querendo sentir
o sol. Olho para o céu na esperança de
vê-lo. Mas se o dia está nublado e frio; aqueço meu corpo com uma taça de vinho,
e a minha alma com a certeza de um dia melhor.
Hoje, acordei com os olhos
brilhando depois de um longo sonho. Seria profano se nele você não estivesse.