Aquatrela

No trem da vida, todas as cores. Passagem livre para o amor. Não permitida a dor. No trem das cores, o azul, a cor de minha vida. E nesta viagem de cores, me diga: Qual seria a sua cor preferida?


Paulo Francisco

O homem

Saiu de cena à francesa.  Ele era mestre em desaparecer no melhor da festa.  Sempre fora assim. Nunca gostou de multidão; nunca soube lidar com o excesso. Seu amor era miúdo, calado, nada de explosões em noites sem lua.  Homem de poucas falas, ouvia com os olhos e respondia sempre com um sorriso nos lábios. Seria um debochado, se não fosse tímido. Ninguém mais o viu. Dizem que viajou – foi para o interior, construiu uma casinha no mato e lá permanece a conversar com os pássaros, enquanto espera o resultado do cruzamento de flores exóticas. Outros já acham que ele nunca mais saiu de casa – continua no mesmo lugar, confinado por causa de um amor perdido. Os exagerados afirmam que ele ganhou na loteria e se escafedeu, caiu no mundo em cruzeiros e jogatinas. Os tenebrosos acreditam que o desaparecido aderiu a uma seita clandestina e está se preparando para destruir com o Opus Dei.
Há quem diga que ele simplesmente morreu.
Há quem diga que ele nunca existiu.
E nesta confusão criada eu pergunto:
 - Quem é esse que eu inventei?
Eu mesmo respondo:
 - Não sei.


Paulo Francisco