Às quatro Marias



Resultado de imagem para onda mar ]gif


Tem gente que entra e sai das nossas vidas sem fazer estrago. Com ela não foi diferente, aconteceu tudo tão de repente que não acreditamos estar, descaradamente, fazendo juras de amor. Ríamos daquela situação porque sabíamos que não ficaríamos juntos por muito tempo. Tínhamos os nossos planos e esses não nos incluíam. Enquanto juntos, deixamos a fita solta, nada de criar laços. E o vento que a trouxera num dia de sol, levou-a numa noite de lua e a fita que nos unira flutuou no mar levada pela brisa. Foi muito bom viajar em suas asas e conhecer outros caminhos. Ainda somos amigos.

Tem gente que entra em nossas vidas como furacão. Quando percebi, estava no meio da sala gritando a famosa frase: Meu Deus! O que foi que eu fiz para merecer isso? Também, o que esperar de dois seres descompensados discutindo a relação. Nunca foram calmos os nossos encontros e muito menos as despedidas. Não tínhamos a fita para fazer o laço. E da mesma forma que tinha chegado, partiu - como um furacão batendo a porta com toda sua fúria. Encolhi-me todo ao escutar o barulho.
- Ai! a porta era de vidro.

Tem gente que chega pra alegrar. Conhecemo-nos num hotel. E em pouco tempo ela estava na minha cidade, na minha casa, na minha cama e no meu coração. Éramos gargalhadas sem fim. Entre um gozo e outro, as risadas rebatiam nas paredes frisadas do quarto voltando aos nossos corpos nus. Divertíamo-nos com a sinceridade um do outro. Éramos amantes de nós mesmos. Deixávamos o pudor para os moralistas e ríamos as gargalhadas das sacanagens construídas. Éramos safados, despudorados, vadios e felizes. Não tinha tempo perdido. Não foi fácil a despedida. Mas continuamos amigos e haja o que houver estamos sempre rindo.

Tem gente que vem para ficar, há algumas que somente passam, outras que deixam marcas. Era vontade de querer pra sempre, de estar junto pra nunca mais largar. Reconhecíamo-nos pelo brilho do olhar. Olhar que penetrava até a alma. Visão amorosa emoldurada por gestos gentis. Como era bom estar perto, como era bom sabermo-nos. Ela me trouxe de volta o céu marinho, a lua cheia e a coragem de viver. Com ela tornei-me mais leve, mais centrado e menos vadio. Quando ela se foi, não me entristeci - entendi que fora preciso. Nunca mais a vi. Ela deixou saudade.

Hoje, não há nenhuma Maria na minha vida. Fico por aqui ouvindo músicas, lendo livros, escrevendo no ar um outro nome. Aqui no meu esconderijo, o tempo é o meu único amigo. Crio paisagens, desenho sorrisos e viajo de carona na cauda do vento. Nesse instante de silêncio coberto por estrelas, não tenho muito para dizer-te a não ser que:

-  O meu amor está ilhado no peito; está guardado na sombra do querer.


Amar contínuo


Resultado de imagem para barco mar lua]



Para o meu bem querer



Às vezes me sinto numa calmaria budista tibetana. Nada de afobação – na precipitação, deixamos de lamber os dedos, e o que deveria ser saboreado é tragado pela impaciência. Sejamos mais tácteis, mais olfativos e menos urgentes. Correr na chuva não quer dizer que nos molharemos menos. Então, andemos de mãos dadas na certeza de que chegaremos juntos, não importa quando.

Em sua presença, fico mais leve e menos aflito. Perto de você, navego em ventos termais e deixo o pensamento fluir, perco-me em desejos secretos e você sabe disso.

Querer navegar contra a maré é, pelo menos, gasto desnecessário de energia. Amar é ondear entre as margens do rio, desviando de obstáculos que porventura venham aparecer. Deixa o barco ir; deixa o sentimento seguir seu rumo; deixa acontecer. Amar é resguardar e não desnudar. Desejo-te inteira. Inteiro, habito em ti.

O coração bateu forte quando a vi depois de tanto tempo. Por um instante ficamos silenciosos como se estivéssemos num templo orando a Deus. Depois da levitação, ela rasga a minha timidez perguntando-me, com voz suave, como estava. Sorri, e sem dizer uma única palavra, inclinei-me para beijá-la na face.

Tudo voltou: a emoção, o desejo, a leveza e a certeza da nossa existência. As nossas urgências não nos definiam; os nossos olhos, denunciavam-nos e as nossas mãos nos comprometiam. Mas naquele momento éramos água seguindo, cada qual, o seu curso. Quem sabe num outro dia. O mar estava logo ali, acariciando a montanha e cobrindo os meus pés de areia.

De repente tudo mudou quando, sem querer, encontramo-nos no meio da multidão. Um sorriso, um abraço apertado não querendo soltar. Estávamos visivelmente felizes com a surpresa do encontro. Um carinho no rosto, uma mexida no cabelo, um segurar de mãos e seguimos para fora daquela aglomeração.

De repente a tristeza que alagava meu corpo evaporou transformando-se mais tarde em chuva. Guardamos os nossos compromissos e urgências nas mochilas e esquecemo-nos em conversas e sorrisos numa confeitaria. Conversas doces regadas com café e creme. Amizade com cobertura colorida e florida de amor. Despedimo-nos à sombra da lua.  

Depois de alguns encontros e desencontros sempre volto para casa querendo ouvir, ao som do violão, canções de amor. Da minha varanda, espero-te na esperança de tê-la. Depois de um dia chuvoso e quente, quero mesmo que a calmaria do meu quarto seja rasgada pela disritmia provocada por sua chegada. É assim que tem que ser e é assim que vai acontecer - sem urgência. E depois de tudo, quando nos desgrudarmos não diremos adeus, pois separados estarão os nossos corpos, mas o desejo não. Quero-te minha, quero-te colada na minha retina.

Às vezes me sinto num templo budista tibetano. Por aqui não há precipitação – há leveza e poesia. A lua sempre toma conta de mim, espiando-me atrás da montanha e o sol chega manso, acompanhado de brisa. Lembra-se da canção que você me presenteou? Nesse momento de amor guardado, de bem querer, eu a escuto todos os dias pensando em nós dois.

Às vezes me sinto assim:

- Apaixonado por você!