Astral





Olhar para o céu e tentar adivinhar como será o dia é uma mania que tenho desde a infância. Dia molhado, cárcere privado. Dia ensolarado, moleque endiabrado. Descobri, já adulto, que a estação que mais gostava não era o verão e sim o outono. O nosso outono. Estação amena que traz calmaria e algumas surpresas, como o sol do meio dia e a bruma depois das seis. 
Ela era o meu outono. Ela era de abril. Calmaria em manhãs douradas, quentura na metade do dia e aconchego em noites de lua fria. Gostava de saber da sua existência em minha vida; de sentir na minha pele a suavidade da sua.Ela nascera no mês de abril, não poderia ser diferente. Ela era o meu outono tropical.
Às vezes, sinto-me tão bobo. Bobo como um pedaço de papel zanzando, sem rumo, numa ventania surgida de repente; ou como um menino que fica rodopiando sem parar, de braços abertos, até cambalear como um bêbado, de um lado para o outro, só para ter a sensação da leveza da tontura provocada. Às vezes, ou quase sempre, sinto-me desse jeito: bobo por ela.
No jardim, as lantanas colorem o caminho de pedra, ofertam néctar para as borboletas agitadinhas; as aranhas, lentas e famintas, tecem suas falsas mandalas na certeza de novas presas; as cortadeiras seguem os seus caminhos carregando matéria prima para a produção de seus alimentos; As manhãs chegam mansas e silenciosas, os pássaros acordam mais tarde -  adeus horário de verão, já vai tarde!
Depois de sua ida pra nunca mais, tornei-me mais centrado, menos sonolento e porque não dizer mais arisco: voando por aí como as agitadinhas, desviando-me das falsas mandalas e pousando em lantanas multicoloridas. Nesse jardim de outono, as cortinas fecham-se antes do aparecimento da lua e abrem-se após a claridade solar.
Ela já fora o meu outono. Hoje, não é mais!
Olhar para as suas retinas e tentar adivinhar o que está pensando é uma mania adquirida depois de algumas estações. Coisa minha. Coisa de quem nasceu na primavera e é de escorpião.