Incomoda-me este tempo indeciso de pouca visibilidade, de incerteza e medo. Nuvens fechadas, em cima da minha cabeça, alagam a minha mente de lembranças de um passado não muito distante. Que venham à luz do sol, o brilho da lua e um céu empolado de estrelas. Chega de chuva, chega de medo, chega de indefinições.
Incomoda-me reviver o horror rasgado em relâmpagos e gritos,
em trovões e desesperanças. Que venha o vento pra desmanchar os monstros
Cumulonimbos em Cirrus imaginários. Que
venha a esperança pintada num azul celeste quase transparente.
O que fizemos para Zeus ficar tão zangado?
O seu medo era meu também. Não entendia porque tanto pavor
de trovões e relâmpagos. Ela ficava escondida no corredor da casa protegida das
janelas abertas. O seu medo silenciávamos. Éramos solidários em dias molhados.
Ficávamos abraçados enrolados num lençol. Ela com medo do tempo, e eu com
desejo a tempo. Nossos rostos se
mostravam na claridade do raio.
Cheguei encharcado ao encontro marcado - Zeus chorava de ciúme. Mas logo o Sol voltou
para alegrar o dia. Formou-se um arco-íris em nossas cabeças.
Ela me disse que gostava de caminhar na chuva. Eu completei dizendo que gostava de vê-la
molhada pelas lágrimas de Zeus. Rimos. Corremos para o trailer e curtimos a
chuva bebendo água de coco com uísque num sossego marinho e nordestino.
- Filho, sai da chuva, você vai ficar doente.
- Filho, leva o guarda-chuva, vai chover mais tarde.
Mãe tem mania de achar que é a moça do tempo. Olhava para cima e não via uma mancha cinza
no céu, mas ela acertava, chovia no final da tarde. E eu me molhava de teimosia. Chegava
encharcado de vergonha. A bronca era certa como o Sol no outro dia.
Depois foi a minha vez de repetir as mesmas frases de
preocupação no meu dia a dia. Quando a gente ama não tem jeito, vamos nos
preocupar. Amar é cuidar do outro mesmo
quando ele não precisa – acho que li algo parecido no cartão do casalzinho do
amar é... no velho jornal de todos os dias.
Incomoda-me esse tempo aquoso, de pouca luz e sem você.
Paulo Francisco