Desejo quase secreto

Acordei com vontade de comer chocolate. Estava nítido que minha boca não queria água, nem outro tipo de doce que não fosse chocolate. Levantei e fui à caça de um pedacinho esquecido na geladeira. Nada! Somente água na minha escrava branca. Bebi um copo daquele líquido gelado e voltei pra cama em plena terça-feira à tarde. Um dia frio e acolhedor.

Às vezes meu corpo pede exageradamente algo, como por exemplo, comer chocolate ou ir à padaria comprar dois sonhos de creme lotado de açúcar de confeiteiro. Não os como lá, levo-os pra casa e num ritual só meu, me lambuzo de creme e açúcar sem nenhum arrependimento. Sou um devorador de sonhos.

Eu sou assim: quando quero uma coisa, eu quero, e quando consigo me lambuzo e me farto em meus desejos. Por isso tenho a minha geladeira vazia, assim, posso ter sempre o que desejar e não encontrar de pronto. Gosto da intensidade da vontade. Teve uma tempo em minha vida, que a gorda estava ali, para o meu bel-prazer. Mas acabava passando batido por ela e tinha a audácia de exclamar: Poxa! Não tem nada de diferente pra comer! A minha diarista da época balançava a cabeça e com o olhar de repreensão me dizia: ¨Que pecado, seu Paulo, que pecado!¨.Então, pra não passar por pecador, resolvi não ter quase nada ou nada em minha geladeira que de gorda passou à mais magra do mundo. Hoje, como fora ou trago algo já pronto pra comer em casa – é mais econômico, não dá trabalho nem aborrecimento; não fico na obrigação de repetir o cardápio e nem com a fama de pecador.

Mas hoje, neste friozinho de inverno, numa tarde especial de terça-feira, bem que queria a minha escrava branca repleta de guloseimas para poder me fartar de tanto comer.

Sem problemas! Tenho uma agenda lotada de endereços de delivery. Basta escolher um.

Hoje acordei com uma vontade de comer chocolate em especial, bombom.

Paulo Francisco

1 de maio





Vai trabalhar vagabundo!Cinco dias de vagabundagem, cinco dias de ócio, cinco dias de descanso. Já estava achando que a vida era não ter hora pra acordar, não ter ponto pra assinar e não ter dia pra labutar. Estava achando que a vida era pra ser vivida em gozo eterno. Não queria outra coisa senão andar sem as amarras do sapato, de bermuda folgada, com o meu chapéu panamá.

Neste feriado não viajei, bem, não viajei de corpo presente, fiquei em minha cidade conhecendo lugares por mim nunca explorados. Mas, também, fiz passeios já conhecidos e que gosto muito. Gosto deste descaso provocado, desta vida vagabunda que o feriado provoca na gente.

O dia primeiro de maio, é um feriado significativo, tem história, é dia de festa e de luto certamente.

Cada País tem a sua história, que o diga Portugal que só voltou a comemorar a data em 1974.

Eu já comentei em texto passado que o meu primeiro de maio mais significativo foi o do ano de 1981, já era trabalhador-estudante e estava no dia 30 de abril para assistir a um show com a nata da MPB no Riocentro, na Barra da Tijuca, onde comemorávamos o dia do trabalhador. Poderia não estar mais por aqui, se aquela bomba tivesse explodido como os militares planejaram.  Explodiu antes do lado de fora do pavilhão e um dos verdinhos que estavam armando a bomba morreu - queriam culpar os vermelhinhos. E neste dia o Chico não cantou. Só fui entender por que no outro dia.

Bomba à parte, o primeiro de maio no Brasil é comemorado com festas e não com luto, pelo menos por enquanto. Que venham as festas, mas que venha, também, a conscientização de que precisamos lutar sim por condições melhores em nossos trabalhos.

Hoje, acordei com o despertador que ganhei de uma amiga de São Paulo tocando. Olhei pro lado, olhei pro outro, estiquei o corpo e disse: vai trabalhar vagabundo!

Viva os trabalhadores do Brasil! Viva eu, viva você, viva! para todos que trabalham e fazem a história deste País.


Paulo Francisco