Deixe a luz acesa, também tenho que partir.
Quando não estava sonhando com estrelas, estava levando porrada do vento. A realidade sempre estava longe do meu alcance. Não conseguia enxergar o concreto - era mais fácil definir o abstrato. Só os loucos conversavam com as nuvens. E eu conversava. Deixava o que era complicado para os adultos. Criança não tem que saber o que é maldade, violência ou a crua realidade. Criança ouve música e mais nada. Ou pelo menos teria que ser assim.
A incompreensão sempre gritava:
- Está falando com quem menino? Parece maluco.
Sim, eu era o maluquinho que andava sem sentir o chão. Voava em pensamentos e conversavas com o invisível. Usava capa de herói e era confundido com bandido. Perdia-me nos caminhos enfeitados com graxa-de-estudante e chão de terra. Perdia-me entre o céu e a areia colada nos meus pés descalços.
A incompreensão sempre gritava:
- Ô garoto! Onde você estava? Aposto que estava fazendo alguma besteira.
Noventa por cento das vezes estava. Porque era besteira sonhar; porque era besteira acreditar; porque era besteira desejar além do muro; porque era besteira construir castelos com o barro vermelho do outro lado do rio.
Deixe a luz acesa, também tenho que partir.
Não era tão complicado sonhar. O difícil era compartilhar. Como levar alguém às nuvens de carona em meus sonhos, quando esse alguém tem medo de voar? E foi nessa incompatibilidade de pensamentos que a luz permaneceu acesa por muito tempo sem direito a chão de estrelas e lua vermelha.
Não deixe a luz acesa, não tenho que partir agora.
Numa certa noite:
- Paulo, você é um romântico.
- Sou não!
- É sim! Você sempre acha que tudo vai dar certo, que nada é impossível...
- Isso não é ser romântico e sim ser otimista...
- Que seja então...
- Que seja então? !
- ÉÉÉ seu chato. Romântico ou otimista, não importa. O que eu quero dizer que você sempre acha que tudo vai dar certo. Que sempre vai ter um amanhã... Você... Você é um sonhador...
- Por favor, apague a luz...
- Por quê?
- Vamos conversar no escuro...
- Mas por que no escuro?
- Porque tenho medo de luzes acesas. E sem elas, posso ver as estrelas.
Reflexão, lirismo e beleza...um texto maravilhoso...li e reli e me encantei...parabéns pela sensibilidade! um abraço, ania..
ResponderExcluirSIMPLESMENTE MARAVILHOSO!!! Adorei e é ruim estar perto de quem não quer voar e não deixa voar! abraços,chica
ResponderExcluirLindíssimo, nossa, me fizestes voltar no tempo e me ver, eu era bem assim, acho que ainda sou, não gosto de "luzes acesas", amo o escuro,onde eu possa ver as lindas estrelas, é como dormir literalmente e sonhar com lugares onde eu possa sentir a alma leve e livre!
ResponderExcluirAdoro ler por aqui, tens uma sensibilidade ímpar!
Abraços amigo Paulo Francisco, até teu nome é lindo!
Oi Paulo
ResponderExcluirIa dormir, resolvi ligar o computador e lá estava você. Corri no seu blog: vou sonhar com seu lindo conto, mas em boa companhia- meu marido que está me esperando.
Tchauzinho
Até amanhã
Beijos
Oi Paulo
ResponderExcluirE como é bom viver, curtir a vida até se lambuzar, pois de repente ela pode sumir para um lugar escuro onde não há choro e nem ringir de dentes
Durma bem, estou assistindo a um filme.
Beijos no coração
Uma palavra basta: BELÍSSIMO!!!
ResponderExcluirBeijos!
Uma só palavra: BELÍSSIMO!
ResponderExcluirBeijo!
Olá, Paulo, lindo texto, acho que todos nós passamos por uma dessas na infância, éramos considerados meio maluquinhos com nossos sonhos ingênuos, mas que não agrediam ninguém.
ResponderExcluir"Não era tão complicado sonhar. O difícil era compartilhar."
Compartilhar é uma coisa muito complicada...
Beijos!
Você tem asas e as conserva com carinho. É capaz de ver as estrelas e de alimentar sonhos. Linda forma de ser. Bjs.
ResponderExcluirBoa noite Paulo Francisco. Fazendo uma visita, me encantando com as leituras e já sou uma seguidora! rs Tenha uma boa noite, abraço!,__________LL
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