O Salgueiro-chorão alegrava a minha alma. Vivíamos juntos às
árvores – as frutíferas principalmente. Nas ruas do subúrbio do Rio, descansávamos
embaixo de amendoeiras; que de quando em vez cismavam em coroar as nossas
cabeças com seus frutos.
Alguém sempre dizia:
- Melhor uma amêndoa que uma jaca.
E a garotada ria sem parar. Mas riamos de tudo. Até daquilo
que não tinha graça.
Adorávamos escalar em dias quentes as enormes flamboyants que
sombreavam as nossas ruas. Mas foi num dia ameno de primavera, aos doze anos de
idade, que vi pela primeira vez, um enorme Salgueiro-chorão. E para completar aquela
paisagem, ele se debruçava num laguinho artificial repleto de carpas. Meus
olhos encheram-se de alegria e de esperança. Foi paixão a primeira vista. A partir desse dia, sempre que tenho que
desenhar uma árvore, é ele que desenho – guardado inteiro em minha cabeça. Lembro-me
desse primeiro momento com todas as cores suaves de uma manhã de primavera.
Têm coisas que marcam a nossa vida pra sempre. O chorão foi
uma dessas coisas. Foi olhando pra enorme árvore que me veio à sensação de
mudança na minha vida. E como mudou.
Mesmo sabendo que não a encontraria mais naquele lugar, pois
o seu tempo de vida não ultrapassa trinta anos, não resisti e fui até o local
onde a vi pela primeira vez. Ela não mais existia certamente, mas o meu
pensamento voltara a encontrá-la numa lembrança que encheu o meu peito de
alegria.
Como eu queria que as minhas lembranças fossem somente de
coisas alegres. Que as tristes fossem apagadas ou, pelo menos, guardadas numa
caixa com um segredo difícil de memorizar.
Eu não sabia que ao encontrá-la a minha vida mudaria. E como
mudou. Mas o que seria da vida se tudo fosse virtude? Contrario ao Chorão, tem
gente que entristece a alma. Principalmente a minha.
Paulo Francisco