Reflexo

 

No fundo do aço, a carranca se desfazia. Não adianta. Ficar puto por muito tempo só vai trazer mal estar, dores no corpo, cara feia e certamente alguém que não tem nada a ver com o meu mau humor vai ser atingido. Se não estou satisfeito, fico calado, fico em casa, fico na minha. Então, não venha tentar me distrair, porque não vai adiantar. Sabe aquela placa de mantenha distância, animal feroz! Pois é, acendo o letreiro e fico em meu canto. Gosto do meu silêncio, do anil tingindo o céu, do tentar colorir as lembranças quase apagadas. O dia passa, a noite vem, e é na madrugada que tudo acontece. O vazio, a calmaria e a certeza de um outro dia acabam restabelecendo o meu humor. O estado de ¨putez¨ vai embora, some quando a noite pari o dia. 

Ontem foi um dia assim. A carranca colou na minha cara e, possivelmente, assustou muita gente. Não consigo disfarçar por muito tempo quando estou chateado ou decepcionado com algo ou com alguém. E para piorar, o dia estava leitoso e frio e o horizonte estava opaco, impedindo a fantasia de um tempo bom. Nada de música, nada de filme, nada de nada. Simplesmente meu quarto, minha penumbra, minha respiração. Em pouco tempo, o corpo sossega, a mente adormece e tudo fica para trás. 

Hoje, quando acordei, o dia ainda estava cinza. O celular tocou. Era valeria mandando-me uma poesia. É sempre assim. O seu texto sempre me deixa feliz. Repeti, por várias vezes, a última frase de sua poesia: ¨Pessoas são palavras ecoando o divino. ¨ 

Quando dei por mim, voltei a aparecer no fundo do aço.

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