Falta




Na prosa da moça, tinha flor; tinha cor; tinha dor; tinha vento; tinha mar; tinha tudo. Bem... quase tudo , porque ainda não tinha ele pra amar.

Paulo Francisco

Aparência

Ontem fui à cidade vizinha. Olhando de fora, parece ser a cidade mais tranquila do mundo, mas sei que não é bem assim. Lá, ainda hoje, impera o coronelismo. A lei do mais forte. Por isso aquele ar quase bucólico. Quem tem coragem de gritar ao mundo? Ontem eu visitei a cidade mais melancólica deste Estado. Cidade regida por egos e falcatruas.


Paulo Francisco

Despertador

Todas as manhãs os pássaros (principalmente as maritacas) lembram-me de que tenho que dormir. Todas as manhãs, exatamente às cinco, nenhum minuto a mais ou a menos, o padeiro e suas portas barulhentas lembram os pássaros que está na hora de acordar. Agora, quem lembra o padeiro que está na hora de abrir o estabelecimento? Será a fornada quentinha e cheirosa da hora?


Paulo Francisco

Amarelo

Amareleceu. O sol invadiu o quarto transformando todas as cores existentes em amarelo ouro. Que belo, Sua Majestade invasora de mim! Permaneço parado – corpo e alma, alimentados pela luz da manhã. Assisto ao caminhar da claridade, deixando-a atingir-me suave e lentamente. Ilumina o meu corpo nu e cuidadosamente, aquece a epiderme exposta àquele ambiente que há pouco era penumbra, era cinza. Corpo totalmente tomado pela cor do rei. Permaneço imóvel. Cansado de mim, retira-se como chegou – suave e lentamente - deixando na pele o calor absorvido. Amareleceu e lá fora um céu azulindo.
Bom dia!

Paulo Francisco

Leitura

Ultimamente estou Galeano muito. Galeio em qualquer lugar: na esquina, no bar, na fila do banco. Hoje soltei uma gargalhada no meio da sala de espera de uma clínica. Todos olharam para as minhas mãos querendo saber de quem era o livro que me fazia tão bem. Não me intimidei, voltei a lê-lo colado à cara. Gosto de compartilhar e deixei que todos lessem: Eduardo Galeano.

Paulo Francisco