De volta ao passado

Caminhando pelas calçadas de Teresópolis, onde vivo, acabei entrando numa importadora antiga   –  a importadora Ingá.  Atraído por algo mágico,  deparei-me com uma fileira de perfumes e li: 4711. Sorri, pois lembrei-me de que um dia roubei na cara dura este perfume de minha namorada (hoje minha amiga). Na época, não tinha graça comprá-lo. Foi gostoso usar gotinhas diárias de minha infância.
Estou pensando se compro ou peço que ela compre. Só para sentir o gostinho de roubá-la novamente.



Paulo Francisco

Questão

Não consigo me inventar. E ela queria que eu fosse de outro jeito. Até tentei, juro que tentei, mas como se transforma um bicho solto num bicho manso?


Paulo Francisco

Lembranças

Hoje, não sei o porquê, lembrei-me de alguns colegas de minha infância. Eles me ensinaram como eu deveria ver o mundo. Sim, os meus amigos, ensinaram-me a traduzir o mundo. Por exemplo, o Adilson e sua irmã Preta, dois irmãos de uma ninhada de seis (eu acho). Eles eram os únicos daquela trupe que tinham algo a mais para nos oferecer. Eram os mais inteligentes, os mais criativos, os mais felizes. Quem disse que pelo fato de não poderem andar deixaram de correr o mundo?.


Paulo Francisco

Aquatrela

No trem da vida, todas as cores. Passagem livre para o amor. Não permitida a dor. No trem das cores, o azul, a cor de minha vida. E nesta viagem de cores, me diga: Qual seria a sua cor preferida?


Paulo Francisco

O homem

Saiu de cena à francesa.  Ele era mestre em desaparecer no melhor da festa.  Sempre fora assim. Nunca gostou de multidão; nunca soube lidar com o excesso. Seu amor era miúdo, calado, nada de explosões em noites sem lua.  Homem de poucas falas, ouvia com os olhos e respondia sempre com um sorriso nos lábios. Seria um debochado, se não fosse tímido. Ninguém mais o viu. Dizem que viajou – foi para o interior, construiu uma casinha no mato e lá permanece a conversar com os pássaros, enquanto espera o resultado do cruzamento de flores exóticas. Outros já acham que ele nunca mais saiu de casa – continua no mesmo lugar, confinado por causa de um amor perdido. Os exagerados afirmam que ele ganhou na loteria e se escafedeu, caiu no mundo em cruzeiros e jogatinas. Os tenebrosos acreditam que o desaparecido aderiu a uma seita clandestina e está se preparando para destruir com o Opus Dei.
Há quem diga que ele simplesmente morreu.
Há quem diga que ele nunca existiu.
E nesta confusão criada eu pergunto:
 - Quem é esse que eu inventei?
Eu mesmo respondo:
 - Não sei.


Paulo Francisco