Elas

Claudia é uma mulher alta, loira de olhos claros. Executiva e ativa. Certo dia chegou ao escritório com os olhos vermelhos, cabelos presos, com a roupa desalinhada, todos queriam saber o que tinha acontecido com ela, mas poucos tinham essa liberdade. Uma colega, mais próxima, chegou com a seguinte observação:  ¨ Todos estão  achando que algo de muito ruim aconteceu pra você chegar assim.¨ Claudia sorriu e disse: ¨ Claro que aconteceu, tive que vim trabalhar.
Ela era assim: obrigação em primeiro lugar, a diversão podia continuar depois.


Wanda escolhia em seu porta-jóias uma pulseira para a ocasião, quando de repente exclamou: algema não! Wanda estava se preparando para ir ao seu terceiro casamento. Preferiu se adornar somente com os brincos. Nada de argolas que pudessem lembrá-la o que queria esquecer.


Ao olhar para o céu, Marli cerrou os olhos por causa da claridade. Ao voltar os olhos para ele, seu companheiro, viu uma imagem desfocada, cinza, a sua volta. Marli interpretara que com ele, ela jamais teria outra cor. Preferiu, então, o arco-íris.

Paulo Francisco

Elas

Quando ela o percebia em sua íris, seus olhos lhe banhavam com a mais pura das águas. Clarisse, que sempre fora sonhadora, tem cheiro de flor e chora de amor.

Aida tem mais de quarenta, não parece, mas tem. Quando perguntam a sua idade, adora que as pessoas tentem adivinhar, pois tem certeza de que vão errar para baixo pelo menos uns cinco anos. Ontem, Aida correu para o seu médico - alguém chegou muito próximo de sua real/ idade. O que será dela, quando errarem pra mais?

Orgulhosa de ter educados três filhos e todos eles terem seguido uma carreira. Florinda senta em sua cadeira de balanço na sala e sorri ao ver os netos brincando. Florinda pensa: Agora é com vocês, já fiz a minha parte.

Janira recebeu a visita dos filhos que moram em outro país. Ela se esqueceu do mundo. Chorou ao recebê-los, passou a sorrir o tempo inteiro. Janira palpitava de felicidade. Mas, na hora da volta, ela chorou ao vê-los, novamente, partirem. Janira voltou a sua vida de antes: Ela sorri para o mundo e chora silenciosamente todos os dias de saudade.


Paulo Francisco

Elas

Katarina chorou na festa de seu primeiro aniversário – teve medo do palhaço. Ela chorou em sua festa de doze anos – teve medo de ser mocinha.  Também chorou quando debutou – teve medo de não ter um príncipe. Chorou, copiosamente, em seu casamento - teve medo de tanta felicidade. Katarina ainda chora – chora pra regar a alma. Ela tem medo de secar.

Margareth, sempre fora atirada pra vida. Nunca teve medo de nada. Enfrentava tudo a unha. Mas quando Margareth deu a luz, ela chorou e teve medo do mundo.

Mônica, mulher negra, alta e esportiva. Gosta de vôlei e sexo. Não necessariamente nessa ordem. Casou-se algumas vezes e perdera a conta dos namorados que já teve. Mônica, uma negra alta que chega às alturas por uma bola e por um beijo.

Verônica, mulher miúda e intrépida. Cresceu quase dois metros pra dizer cara-a-cara ao homem que mexeu com ela na rua. Verônica cresce diante do atrevimento alheio.


Paulo Francisco

Mudança de tempo




Cinco dias de chuva. Não aguentando mais tanta água caindo do céu, tira a roupa e nu em plena sala, dança chamando o sol. Não é que dá certo. No outro dia, um sol lindo surge no céu. Levanta-se, veste um calção de banho e fica o dia todo na praia, mais propriamente dentro d água para refrescar-se do calor. Vai entender.


Paulo Francisco

De volta ao passado

Caminhando pelas calçadas de Teresópolis, onde vivo, acabei entrando numa importadora antiga   –  a importadora Ingá.  Atraído por algo mágico,  deparei-me com uma fileira de perfumes e li: 4711. Sorri, pois lembrei-me de que um dia roubei na cara dura este perfume de minha namorada (hoje minha amiga). Na época, não tinha graça comprá-lo. Foi gostoso usar gotinhas diárias de minha infância.
Estou pensando se compro ou peço que ela compre. Só para sentir o gostinho de roubá-la novamente.



Paulo Francisco