Céu de brigadeiro

Não gosto de surpresas. Hoje, o dia me surpreendeu - ficou chuvoso e esfriou rapidamente. Dias nublados me entristecem. É como se as nuvens, zangadas, não permitissem que o sol chegasse por completo com seus raios quentes. Em dias assim, eu sou o sol escondido.
Não consigo concentrar-me absolutamente em nada em dias acinzentados.
Acredito que seja porque a visibilidade não é total nem para ver o sol e muito menos para namorar a lua. E sem os meus banhos estelares a boêmia fica incompleta. Noite sem um céu anilado coberto por senhoras que brilham é o mesmo que viola sem seresta – fica vazio.
Quem gosta de olhar para nuvens carregadas de íons e prótons?
Quem gosta de luminosidade sem a presença do rei vermelho?
Quem gosta de namorar sem a lua como cúmplice?
Eu não gosto!
Eu gosto de céu azul: se dia, um azul que me lembre roupas de bebê; se noite, quero um céu azul de metileno decorado por constelações perfeitas.
Por isso gosto de seu céu, ele é assim, como descrevi . Ele me embala em canções doces.
No seu céu, eu sonho e desejo – torno-me romântico e engulo estrelas cobertas por açúcar de confeiteiro.
Com o seu céu me cubro por inteiro – me torno pescador de estrelas.




Paulo Francisco

Amigos

Caminhava totalmente absorto, de repente me deparei com um sorriso amigo. Recuperado do susto, gargalhamos como dois moleques arteiros.
A principio, conversamos amenidades, os nossos olhares não permitiam conversas duras. Já não nos víamos há mais de ano.
O sol debruçado sobre as montanhas e nós debruçados em cervejas e conversas.
Não estávamos mais sozinhos, nossas lembranças nos acompanhavam e a cada uma delas revelada, retirávamos um do outro pedaços de epiderme encourada pelo tempo.
Desnudamo-nos sem a vergonha do macho. Éramos, ali, seres frágeis compartilhando dor; éramos seres-crianças compartilhando felicidade.
A lua já a pino anunciava a metade da noite.
Hora da despedida, hora de revelarmos o quanto valeu a pena aquele encontro. Um abraço e um sorriso; outro abraço e a promessa de outros encontros.
Ele seguiu como surgiu – de repente.
Eu voltei a caminhar madrugada adentro absorto e leve.
Percebi que a amizade nunca acaba. Amigo a gente não escolhe. Amizade é uma coisa natural, sem genética, sem padrão. Basta alma.
Hoje, faz um ano, o nosso último encontro.



Paulo Francisco