Vem nem que seja só pra dizer adeus. A cantora num duo cantava melancolicamente a canção. Fiquei com a frase em minha cabeça e, cada vez que pensava nela, meu coração disparava. Fiquei perdidamente entristecido na possibilidade de um dia isto acontecer comigo. Aço só o super-homem, eu sou feito de células, tecidos e órgãos vitais – sou um eucarionte. Meus sistemas se interligam. Meu coração pulsa e jorra vida e, sem ele não sou nada. No meu peito não tem um esse de super, tem todo alfabeto que represente o amor que tenho por ela. Sou de carne e alma. Sou humano e como tal, sou um possível sofredor de amor.
Não, não venha pra me dizer adeus. Venha pra me fazer um aconchego, me colocar em seu colo e me mimar de afetos. Venha, venha sim, me fortalecer com seus carinhos e cheiros.
Aceitar um adeus quando ainda se ama é fatal. Morre-se numa sessão de tortura chinesa – é palito de bambu na unha. Descobre-se que o castelo era de areia e o calor que te aquecia agora te queima como gelo.
Venha nem que seja só pra dizer adeus. E eles disseram adeus. A canção não saía de minha cabeça.
É certo que numa relação fragilizada a possibilidade de um adeus é forte. Basta a indecisão de um dos pares. Numa dupla a sincronia é vital. Não existe a batalha do eu sozinho.
E este amor tão frágil precisa fortalecer-se pra que não haja adeus.
Trago em meu peito o seu nome, não sou eu quem vai dizer adeus.
Trago em meu peito a certeza de você, não sou eu quem vai dizer adeus.
E a musica não acabava... Repetia-se em minha cabeça, deixando-me mais inseguro que aquele amor. Amor de papel, com pouca base; amor ainda em construção; amor em gema que não se transformou ainda em botão. Como florir?
E no final da canção o silêncio se instaurou em mim. Mas como eu já dissera, tenho alma. Corri para o telefone e disse com todas as letras: ¨ Te amo.¨
Ela não atendeu para me dizer adeus. Ela não me disse adeus. Simplesmente sorriu. Sorrimos juntos até a próxima canção.
Paulo Francisco