A maioria dos meus amigos não consegue ficar sozinho. E como eu sou um eremita nato, mas não um homem das cavernas, eu sofro com seus apelos:
- Quando você vem aqui em casa?
- Não, não acredito que você vai me deixar almoçar sozinha
em pleno domingo?
- Ah, vamos até São Paulo neste fim de semana?
- Já reservei hotel pra nós dois em BH...
- Olha tem uma exposição maravilhosa no Rio, vamos?!
- Sabe aquele almoço de sexta? Transferimos para um
jantarzinho... Você vem, né?
- Posso ficar aí com você?
- Estou dando uma passadinha em Terê e pensei em ficar aí
com você? Eu posso né?
- O que você estava
fazendo? Liguei várias vezes e você não atendeu.
- Menino, eu não sei como você consegue ficar ilhado por
tanto tempo.
- Procurei por você até no Bar do João. Fiquei preocupada.
Está namorando?
- Só não fui até aí porque sei que você só atende a
campainha quando quer.
Consigo ficar por aqui e esquecer-me do mundo. Claro que eu gosto de receber amigos, fazer
uma reunião de quando em vez, ou visitá-los em dias frios.
Não quer me encontrar?! Então não vá ao teatro, não vá ao
cinema, não vá à livraria, não vá ao show da semana, não vá ao bar do João. Ou
simplesmente não visite o Parque Nacional em dias de Sol.
Talvez, a maioria dos meus amigos não consegue ficar sozinho,
ou simplesmente se incomoda, erroneamente, com o fato de eu parecer um eremita.
Quem disse que o homem consegue viver sem companhia? Pelo menos, eu não consigo. Não mesmo. As minhas
paredes sabem disso.
Não venha onde estou porque estou morrendo de amor.
Paulo Francisco