Oposto




Na prática é diferente. Não estava procurando a cura. Mentia quem dizia que ela existia. Sabia que teria que conviver pra sempre com aquela dor de amor. Amor acabado é amor amputado - não está mais lá, mas de quando em vez o sentimos como se ele ainda existisse.

Gritava seu nome até o peito doer. Gritava seu nome na esperança do vento levá-lo até o seu coração. Gritava em vão. Sofria em vão. Vivia em vão. Mas não há tristeza que perdure por todo o sempre. Guardamo-la numa caixinha invisível dentro de nós. Se a tristeza do poeta não tinha fim, e se a felicidade era efêmera, as minhas eram intensas e insanas. Mas tinham fim sim.

Outra mentira era quando ouvia o clichê que amor se cura com outro amor. Não há amor igual. Cada um tem sua marca própria. É digital na alma – não dá pra apagar. Então, no máximo, o guardamos numa caixa invisível e o esquecemos numa parte qualquer dentro de nós. E foi assim, guardando-os em caixas invisíveis, que sobrevivi a todos eles.

Quando ela chegou já sabia que era por pouco tempo. Não era ali na minha varanda que sua rede se esticaria. Mas como eu já dissera, na prática é diferente. Acabou ficando, balançando na minha rede e contemplando o meu céu marinho por alguns meses. O poeta tinha razão quando escrevera que seja eterno enquanto dure. E foi eterno e sem dor. Pelo menos para mim.

Mas quando a outra se foi sem dizer qualquer coisa que pudesse aliviar o meu desespero, percebi que não existia amor entre nós. Era qualquer coisa, menos amor. Quem ama não abandona. Quem ama não agride, não foge, não despreza. Amor pesado, coração machucado. Esse não foi eterno, foi sim, um inferno.

Quando publiquei o texto Teoria,o comentário da moça Milene chamou-me a atenção e me deu uma vontade danada de responder na hora que na prática é diferente. Não o fiz, mas a frase ficou comigo e seu comentário também.

Não é vantagem nenhuma, Milene, viver essa insanidade toda. Vantagem é se acertar com ele, como alguns casais que conheço. Não tem tempo certo para ele chegar. Então, o infinito é o limite. Se há vida, há com certeza moradia para o amor. Ele se ajeita sim, em qualquer morada, basta essa morada estar de portas e janelas abertas para recebê-lo. Ele gosta de carinho, sinceridade e respeito. A cumplicidade é o esteio de uma vida a dois. Sem ela não há amor que consiga resistir as diversidades da vida. E na prática, Milene, será sempre diferente.

Paulo Francisco


Sobre beijos e abraços...





Um beijo grande. Sempre termino um comentário mandando um beijo grande para as moças e  um grande abraço para os rapazes.  Mas o que seria um grande abraço?  Seria o abraçaço de Caetano do outro lado da tela? Ou aquele abraço de Gil?

Quando abraço, abraço. Meus abraços só chegam a quem eu admiro ou amo. Eles se tornam laços de fitas num presente desejado. Abraço demorado, sentindo não somente o corpo, mas a alma de quem estou abraçando – um rito de transfusão de coisas boas. Independente do gênero, independente da cor, independente da classe, o meu abraço é abraço-amigo. E se torna um abraço amigo, também, nas despedidas virtuais.

Mas quando a vi naquela manhã de sol morno e de céu transparente, não pude deixar de abraçá-la. Precisava de seu abraço na carência de seus beijos. Gosto, e se pudesse, ficaria grudado nela por mais vezes. Gosto de sentir sua carne na minha. Gosto de envolvê-la e ser envolvido por ela nesses nossos abraços apertados e demorados. Gosto desse engolfamento de alma.  São abraços  com beijinhos no pescoço. É verdadeiramente um abraço que acende.

Mas o que me motivou a escrever esse texto foi o comentário de Maria Paula quando me mandou um recíproco beijo grande, dizendo que não sabia o seu verdadeiro significado com relação ao meu. Parei pra pensar o que seria esse tal de beijo grande.

O beijo é beijo e pronto. O grande é que é o diferencial nesse beijo virtualizado. Poderia ser uma forma de escrever sem nenhum significado maior. Mas não é. Tem significado sim. Tem significado para quem o recebe. E tem significado para este que o escreve.

Foi mais que um beijo grande quando nos despedimos no corredor de seu prédio. Foi um beijo  agridoce banhado de adeus. Um beijo ainda cheio de tesão. Um beijo que nos acendia de paixão.  Um beijo na contramão.

Voltando ao beijo grande de Maria.

Uns dizem, Maria Paula, que beijo grande é beijo de tia, um beijo carinhoso cheio de ternura. Outros, já acham que a palavra beijos é mais sedutora. Confesso que acho tudo isso uma bobagem.  O meu beijo grande pode ser um beijo cheio de carinho e ternura, como pode ser um beijo sedutor, vai depender de quem o recebe. Sabe aquele beijo no pescoço que chamamos de cheiro? Ele pode ser um beijo grande. E aquele beijo cheio de tesão que quase suga a alma, também é um beijo grande. Um beijo na face acompanhado de um abraço caloroso, também o é.

O que eu não gosto mesmo é daquela despedida com a palavra beijinhos. Soa falso, tem um quê de esnobismo. Acho fresco e pequeno demais. Se fosse acompanhado de algo mais, como beijinhos no pescoço, tudo bem. Quem não gosta de ser tatuado por lábios quentes?


A única certeza de tudo isso, é que se eu estivesse por aí, esse meu beijo grande, teria carinho, ternura, viria acompanhado de um abraço feito um laço de fita e jamais seria um beijo de tia.


Paulo Francisco