Precisão

Largue tudo e venha ficar comigo. Não diga nada, simplesmente entre debaixo da coberta e aconchegue-se ao meu lado. Abrace-me apertado e aqueça meu corpo carente de amor. Não, não estou depressivo e muito menos triste – estou é com muita saudade de tê-la perto de mim. Macho também necessita de carinho, de beijinhos no pescoço, de sussurros que encharcam os olhos e ressuscitam velhos pensamentos. Venha, a recíproca sempre será verdadeira. Cê sabe que sim...

Muitos sabem que gosto de ficar no meu recanto - longe de tudo e próximo do céu. E são poucos os que sabem como gosto de tê-la perto de mim. Sinto falta dos seus olhos, das suas mãos para poder segurar, das nossas conversas soltas ecoadas pela casa e das poesias marcadas na derme. Largue tudo e venha. A porta sempre estará aberta. Não me deixe neste vazio tão difícil de respirar. E se por acaso não puder salvar-me desta solidão de agora, não me conte a verdade. Invente uma história qualquer e mande-me uma mensagem pelo celular.

Não é descontentamento. É coisa presa no peito, sensação de vazio. Sofrimento miúdo de fazer chorar sem saber o porquê. Nunca me acostumei com esse sentimento obscuro, dessa coisa esquisita que chega de repente e mexe com tudo - coisa humana que estraga a alma se não tem outra para acalentar. 
Quando moleque, corria para o colo materno. Hoje, as necessidades são outras, as dores são outras. Venha logo! Não me deixe sozinho com esse sofrer clandestino. Venha resgatar-me dessa escuridão sem estrelas. Você sabe como fazer.

Venha matar a minha vontade de você. Vontade de dizer bobagens sem medo de ser ridículo, de deixar os compromissos para trás e viver como fosse o fim do mundo. Gosto do sorriso que vem de dentro, de tocar o céu da sua boca, da levitação emocional – coisas de Deus. Venha pra eu poder admirar, depois que a lua for embora, seu corpo nu sendo dourado pelo sol.

É vontade de criar uma nova história, fazer uma nova canção, de simplesmente deixar o dia passar lento sem nos preocuparmos com o depois. Quero amanhecer em seu corpo e saciar minha sede de você.  O dia está quase cumprimentando a noite manchando o céu de laranja. As cortinas, a qualquer momento, se abrirão para as estrelas. Nesse instante de Deus quero-te comigo para admirarmos juntos, deitados na rede, o aparecimento da lua.

Esqueçamos os erros de ontem e sigamos juntos nesse recomeço.


Largue tudo e venha, venha dizer-me safadezas na ponta da minha orelha. Venha... a recíproca será verdadeira. Cê sabe que sim...

“todo amor que houver nessa vida”


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Por aqui está tudo nublado. Não sei se permaneço parado à espera da dissipação ou corro ao seu encontro permitindo-me ser coberto pelo invisível. Confesso que assusta não saber o que tem do outro lado da porta: Se a verdade nua e crua ou simplesmente ilusão. Mas, neste momento de pouca visibilidade, pouco importa a surpresa encontrada. O que não quero é chorar de saudade e muito menos sofrer por um amor partido.

Não, não quero mais vagar em caminhos tortuosos, indefinidos, parindo dores ao relento em madrugadas frias. O que quero então?! Ah! Quero um amor tranquilo, sem guerra e mesquinharia. Um amor por ele mesmo, sem apelos, sem disse me disse, porque neste redemoinho, giro de mãos vazias, livre e sozinho.

Podem me chamar de tolo, de louco varrido, mas é desse jeito que quero: um amor sereno, sincero... um amor manso para ser embalado na minha rede e que possa contemplar comigo o azul do meu céu. Não estou à procura do pote de ouro na ponta do arco íris; estou à procura da completude nos olhos de quem quero pra sempre – e isso não depende somente de mim.

Ela não esperava ver-me naquele lugar sagrado. Seus olhos pequenos sorriram quando, sem querer, encontraram-se com os meus. Percebi um suspiro de contentamento que acabou contagiando-me de alegria também. Pensei: O que fiz para gostar de mim assim? Diante de um novo amor, torno-me leve como um dançarino e visto-me de poemas alheios para declarar o que sinto; diante dele, recrio-me em canções e cores que invadem a imensidão que há em mim. Ela não esperava ver-me tão apaixonado assim.

Mandei, numa noite dessas, uma música para ela. Gosto desse carinho musical. Nem sei se percebeu o afeto ou se o gesto simplesmente passou despercebido. Gostaria de mandar música todas as noites como se fosse beijinho antes dormir. Como sou coruja e não durmo antes da meia noite, fico com livros e músicas até o sono invadir-me. Não consigo mudar essa condição noturna – a noite também é minha amiga. Se não a tenho para me dar beijinhos, tenho as estrelas oferecendo carinho.

O sonho de ontem não foi nada tranquilo. Não tinha jardim nem montanha, estrelas e lua. Não estávamos num lugar paradisíaco, tampouco na multidão. Éramos somente nós, o sofá e a penumbra banhando os nossos corpos nus. Tem sonho que não precisa de paisagem, somente a presença ou a sensação do outro. Sempre que sonho com ela em madrugadas silenciosas, acordo molhado e febril.

Agora, agorinha, mandou-me uma charge bonitinha com a Lucy e a Sally Brown. Talvez seja a maneira de dizer que lembrou de mim, ou simplesmente mandou por mandar – por eu ser mais um nome na tela de seu celular. Nada além disso. Não gosto dessas mensagens subliminares, as metáforas pertencem à minha timidez. Preciso da claridade para caminhar em segurança, mesmo que o chão esteja forrado de estrelas.

Em cárcere tudo é mais complexo. A liberdade simplifica o mundo. Quando fui questionado por onde andava, percebi que as asas me davam possibilidade de ir e vir sem restrição. Gostava, antes dela, da vida solta, qual a distância ficava somente na imaginação.

Nesse instante amoroso, sinto-me preso ao chão – mas gosto da segurança que ela me traz. Nesse instante, adoraria estar colado em seu corpo, na esperança de nunca mais largar.

Lá fora, a neblina esconde a noite. Aqui dentro, no silêncio do meu quarto, fecho os olhos e viajo no escuro, só para vê-la dormindo.