Chegava morto de fome. Sabia que ali não me faltaria um rango. Ele já me olhava com um sorriso na cara. A larica era maior que o meu estômago, as garfadas eram maiores que a minha boca. Era um tempo que eu tinha fome e sede do mundo. Dormir só depois de lutar muito contra o sono – não queria desperdiçar o meu tempo com sonho; queria vivê-lo de imediato.
Ontem recebi um amigo em minha casa. Ao abrir a geladeira ele riu e exclamou:
- Sua geladeira parece um coco!
Totalmente distraído perguntei-lhe por que e ele me respondeu as gargalhadas:
- Pô camarada, só tem água!
Rimos. Fomos parar num bar pra matar mais a sede do que a fome.
Hoje quando a larica chega, não tenho mais aquele amigo pra matá-la. Corro ao restaurante e bato um rango daqueles.
Hoje senti uma saudade enorme daquele tempo. Não pela vida desregrada, mas por ter ele perto de mim – meu grande amigo que nunca me desamparou nem mesmo nas minhas piores devassidões.
Paulo Francisco
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