Os sinais não estavam
claros. Não conseguia acompanhar o que diziam. A minha curiosidade limitou-se
em imaginar os possíveis diálogos entre eles.
LIBRAS não faz parte do meu vocabulário. Eles sorriam, conversavam
descontraidamente. Distraía-me naquele
universo de mãos, olhos e gestos aflitos. Tornei-me o Maxwell Smart no mais velho disfarce da leitura do jornal sentado
num café. Tentava saber o que eles tanto falavam naquela esquina cinza e morna.
Os jovens são destemidos, alheios ao perigo. De repente se espalharam,
desintegram-se aos meus olhos. Fiquei
com a interrogação, o disfarce e um vazio imenso no coração. Não gosto de
história incompleta.
Os sinais de trânsito sempre me fascinaram. Ficava olhando
pela janela do carro as placas indicativas. Contava os quilômetros rodados não
pelo velocímetro, mas pelas placas à beira da estrada. Proibido isso, proibido aquilo. Altura máxima, largura máxima, velocidade
máxima. Siga em frente. Vire à direita.
E de repente ele não diminuiu a velocidade, passou da curva e eu do
para-brisa. Acordei na maca de uma
clinica. Não gosto de histórias com
tragédias, mesmo com final feliz.
A bandeira vermelha sinalizava perigo. Não entrávamos na
água. Mas não arredávamos os pés da
areia. Jogávamos carta e molhávamos os nossos corpos na margem da praia. Mas se
a vontade era de estar dentro d’água, saiamos à procura de uma bandeira branca
– soube que agora é verde. Ela chegou molhada
com uma bandeira vermelha debaixo do braço.
Achei estranho. Não sabia que ela militava. Tinha acabado de chegar de
uma manifestação no Centro da cidade. Eu
estava em casa assistindo a tudo pela TV. Já estava agorafóbico e ainda não sabia. As
histórias de pânicos nunca foram as minhas preferidas.
Os sinais nunca eram claros para mim. A matemática não me
pertencia, não me unia. Não havia interseção nos meus caminhos de sonhos, Os colchetes
estavam nas minhas roupas e não no meu raciocínio. A realidade e o devaneio
caminhavam juntos. Estava sempre somando. Demorei a entender ou a aceitar a
subtração. E quando ela chegou passei a entender as manipulações formais: as
lineares, as abstratas, as elementares e a universal. Contido ou não contido
eis a questão. E naturalmente eu não pertencia aos delírios dela. Tornamos-nos conjuntos vazios. Não nos
pertencíamos mais. Também não gosto de histórias sem final feliz.
Mas foi um sinal em sua coxa que me chamou atenção. Adoro
histórias de mistério.
Paulo Francisco
Volto a dizer que gosto da construção dos seus textos. Prendem a minha atenção. Gosto da imagens que me sugerem.
ResponderExcluirabraço
...eu também adoro histórias
ResponderExcluirde mistérios, e também gosto
de saber que te tenho por
perto...por isso que senti
saudades.
como esquecer vocês?
bjs, ternos, Paulo!
feliz de te ver por lá!
mistério..suspense..me encanta
ResponderExcluirBjs.Sol
Tens uma fórmula, uma equação matemática que nos encanta. Adorei!
ResponderExcluirBelíssimo final de semana, amigo!Bjsss
Há um humor poético na sua escrita que me impressiona sempre que o leio.
ResponderExcluirEu também não gosto de finais infelizes. Mas os mistérios... ah, os mistérios!
Beijos!
Chateada contigo? Você brincou ou achou realmente isso? Rsrs... Ando lenta, não judie da minha compreensão.
ResponderExcluirChateada, jamais! Eu verdadeiramente adorei o seu texto e tenho outros pra colocar em dia. Voltarei mais tranquilamente.
Beijo!