O vento sempre esteve em seu caminho. Mas era o vento oeste
que mais o fascinava. Talvez fosse pela delicadeza de Zéfiro de Bouguereau
seduzindo a deusa Chloris.
Foi através do vento que a sentiu pela primeira vez. O seu
perfume penetrara suavemente pelas suas narinas fazendo-o virar a cabeça em sua
direção. E lá estava ela exalando sedução. Seria zéfiro presenteando-o com tão
bela imagem?
Sentado na sacada de seu quarto nas longas madrugadas frias,
ele sentia as mãos geladas e pesadas de Bóreas.
Nunca gostara do vento norte. Sempre achara que foi ele que a levou para
sempre, numa noite sem estrelas. E por muito tempo, sentado em sua sacada, recitava
a mesma poesia de Florbela – Cantigas leva-as o vento...:
¨A lembrança dos teus beijos
Inda na minh´alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas de um livro triste,
Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desapar´cido
Revive numa saudade!¨
Mas o vento sempre fora mais alegre do que triste. E os
moleques do bairro chamavam o vento numa canção típica da região:
¨Vem vento caxinguelê,
Cachorro do mato qué
te mordê.¨
E o vento vinha e as pipas subiam ao céu para a alegria da
molecada.
Mas quando o vento chegava forte e repentino, as mulheres
corriam até o quintal para pegar os lençóis branquinhos cheirando a anil.
Ficava parado, olhando-os dançando freneticamente no ar, dificultando as suas
retiradas. De quando em vez uma saia subia para a alegria de seus olhos
curiosos.
Em casa, adorava fabricar assovios estranhos assoprando
contra as paletas do ventilador de metal. Perdia-se em namoro a espera do vento
gelado do lento vaivém do disco gradeado. Enfeitava o metálico com fitas de
plástico somente para destruir o silêncio gelado. Ouvia dos mais velhos o
perigo da mutilação causada pelas hélices do aparelho. Então, escondido na sua
própria sombra, empunhando uma vareta de bambu, tentava a qualquer custo – até
mesmo por uma surra - parar o perigoso
gerador de vento, numa imaginária aventura épica entre o homem e o dragão. Mas o grito do monstro sendo abatido ecoava
pela casa delatando sua aventura. Corria para bem longe de seu crime, numa
tentativa inútil de ser inocentado. Mas o seu nome, levado pelo vento, atravessava
toda a casa esbarrando nos móveis pesados e brilhantes de todos os cômodos até
o escuro de seu armário. Todos sabiam quem era o culpado das piores travessuras
daquele lugar.
- Pauloooooooooooooooooooooooooooooo!!!!!!!!!!!!!
O vento sempre esteve presente em seu caminho.
Paulo Francisco
O menino e esse vento que, de uma ou outra forma esteve sempre presente em sua vida! Lindo! abração,chica
ResponderExcluirFantástico texto, quanta criatividade na escrita.
ResponderExcluirabraço
Boa noite, Paulo.
ResponderExcluirO vento e suas manifestações em diferentes momentos e ações.
Cada qual tinha um sentindo específico de leveza e tristeza, ambos eram lindos.
Interessante a escrita.
Tenha uma semana de paz.
Beijos na alma.
Fico imaginando você pequeno(Nossa!!)
ResponderExcluirOs ventos sempre se cruzam...
Lindo texto.
Beijinhos<3.
...e o vento me trouxe aqui!
ResponderExcluirencantada, perdida nas
suas palavras, deixo-me
levar pela imaginação!
obrigada, por tão belo
momento!
bjokas alma linda!
Que lindo, amigo "Pauloooooo....",rsrs, amei ler, olha a mitologia por aqui também, rs, adorei ler!
ResponderExcluirSabe, me lembrei do meu único irmão, caçula que aprontava todas, ainda é a pessoa mais divertida em minha vida, recebi a visita dele por esses dias, fico sempre feliz com isso!
Esse vento que descreves eu também adoro, é leve, vento do deus Zéfiro, agora o vendo do seu irmão Bóreas, rsrs, é mesmo de gelar!
Que leveza aqui nesse belo texto/poesia citando Florbela, quanta cultura que enriquece nossas vidas!
Tens lindas lembranças da infância né amigo?
Também tenho e adoro recordar!
Abraços bem apertados!
O Vento que eras!... Fresco!...
ResponderExcluirUm texto de vida e com vida de menino a ser recordada nesta bela prosa.
Parabéns.
Abraço
SOL