Ao contrário de outros finais de tarde, a chuva chegara
delicada, trazendo consigo um ventinho gelado de deixar arrepiados os nossos
corpos quentes – certeza de uma noite calma e sem insônia. Quem me dera essa
calmaria fosse diária. Noite de lua; de pensamentos longínquos, e de música
suave no ar – coisa minha.
Às vezes, só às vezes, fico na inércia – o mundo pode vir
abaixo que não estou nem aí. Aprendi a duras penas que a melhor resposta para
determinada situação é o silêncio. É fazer ouvidos moucos. O mundo está muito
doido para dar crédito as insanidades individuais. Tenho o cantar dos pássaros,
as algazarras das maritacas, o uivo do vento, as madrugadas raiadas pela luz da
lua e perfumadas pela dama da noite e, tenho também, a minha própria insanidade.
Então, deixo a demência alheia para quem a aprecia – não faço questão nem quero
participar de outros manicômios. O meu nicho está em outro habitat. Não venha provocar-me com vara curta, a velha
onça, ultimamente, está tranquila, mansa e de barriga cheia.
Ela, aparentemente afoita, manda-me uma mensagem de voz
questionando a minha ausência. Ela, ainda não entende que o meu tempo não é
definido por ponteiros, horas marcadas, e muito menos por juras e promessas.
Não há juras, não há promessas, há verdade, sinceridade, confiança mútua. Então
respondi, no meu tempo, que estava no meu canto, sozinho, contemplando o
horizonte. Acho que não entendeu. Mas quem entenderia? A loucura é
personalizada. Basta observar os psiquiatras.
Às vezes, só às vezes, abro algumas exceções. Tento
enfrentar as minhas fobias - que são muitas. Valéria, minha preta do coração,
mandou-me um recado dizendo que estava com saudade. Não respondi. Não
precisava. Ela sabe que é minha irmã de alma, e que a saudade é recíproca. Mas
por enquanto, vou ficando por aqui falando com os marcianos.
Ao contrário de outros dias, preparo uma caneca de chá de
hortelã – dica da Carol e sachê doado pela Claudia – na esperança de uma
homeostasia do corpo e da alma. Sim, às
vezes, só às vezes, fico livre da cafeína, do tanino e da cevada. Gosto de
quebrar a rotina com o inusitado. Hoje, dormirei embalado pela rede – presente
vindo do nordeste.
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