Talvez não escreva mais sobre as minhas Marias. Farei uma força enorme para que isso aconteça. Por isso começo a frase com um ¨talvez¨; pois elas são tantas que é quase impossível não as escrever. As Marias fazem parte de mim desde o nascimento. Elas permearam em minha vida entre a claridade e a escuridão.
Algumas surgiram do barro, outras eram o meu sal. Algumas
açucaradas, outras éteres. Poucas foram grená, muitas foram azuis. Algumas
foram minhas pontes, outras meus cais. Poucas me abrigaram, muitas me
abandonaram. Algumas me disseram adeus, outras nem isso. Muitas foram a cura, poucas
deixaram cicatrizes.
Talvez não escreva mais sobre as minhas Marias. Não relate
as nossas intimidades, as nossas vontades, as nossas decepções. Possivelmente
as guardarei na derme, tatuadas no peito, fechadas em meu coração.
Mas o que eu não posso prometer é se uma nova Maria
aparecer. Certamente escreverei sobre ela, mesmo sabendo que a efemeridade é
vital.
Por enquanto não escreverei mais as coisas de Maria. Fica
registrado assim.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente leitura. "Lentamente, de forma gradual e, de repente, a dúvida nos desperdiça. A consciência desse hábito pode ajudar a prevenir a devastação causada pela dúvida – o reconhecimento – e fazer um esforço diligente para combater a incerteza."
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