Sobre as águas

Depois de um pé-d´água, corríamos para ver o rio bufando de cheio. Ficávamos debruçados no guarda-corpo da ponte, apontando admirados com o que aparecia naquela água turva. Surgia de tudo: pneus velhos, galhos e troncos de árvores, móveis quebrados, sacolas de lixos e vários outros objetos. A molecada se divertia com qualquer coisa. Nada pescável. Tudo que se via era para se admirar com espanto ou não. Gostoso era estar lá. Unidos, rindo numa algazarra em decibéis acima do suportável - coisa de gente inocente.

Quantos rios passaram em minha vida! Cada qual com sua particularidade. Uns navegáveis, outros impossíveis. Uns para serem acariciados, outros respeitados. Uns pedindo sombras, outros camuflados.

Os meus rios, até agora, não chegaram a ser a Ribeira do Pessoa, muito menos o seu Tejo; os meus rios, pairam em mim, num ciúme Veloso de arrepiar.

Os meus rios não são o Amazonas, o Paraná, o Madeira, o Purus, o São Francisco, o Tocantins ou o Araguaia. Os meus rios são outros, tão importantes quanto ,porque neles eu sonhei e naveguei em poesias,  prosas e até pesquei.

Hoje, toda vez que há um temporal, não corro para a ponte de um rio. Sigo para o meu quarto, onde me debruço em pensamentos e pedidos que só Ele pode me atender.