Passatempo

Não me aborreço em filas. Antes, sempre tinha um livro de bolso na mochila para aproveitar o tempo – vicio adquirido desde pequeno. Não as grandes filas, mas os livros. Ler, enquanto esperava a minha vez, era um método eficaz para evitar o estresse.

De quando em vez, surgia um humano furioso falando alto, discutindo com aquele que nos atenderia, reclamando da demora, do calor ou de qualquer outra coisa pequena – vergonha alheia.

Quando a fila está incompatível com o meu tempo, simplesmente recuo, volto num outro horário ou em outro dia. Simples assim.

Está bom! Sei que a tecnologia facilita a vida de muitos: temos os códigos de barra, os QR Codes e sabe lá o que mais, conectando-nos ao ambiente virtual. Mas nem tudo, por enquanto, é tecnológico. Sou das antigas. Vídeochamada jamais vai substituir a emoção do cara a cara, dos olhos nos olhos. Ameniza, eu sei!

Ultimamente, gosto mais de observar a paisagem ao meu redor – imaginar personagens a partir das características de cada uma delas: é o magro alto e narigudo; a senhora de olhos e faces redondos; a jovem de calça larga, com fone de ouvido rosa contrastando com seu cabelo azul; as duas amigas rindo com o que estão vendo no celular de uma delas; o homem de terno com a cara cansada; um outro de bermuda e chinelão, mexendo na carteira. E assim passo o meu tempo, observando e absorvendo morfologia, estilos e comportamentos. Sim, sou um observador de gente.

Ontem, na fila do mercado, a distração tomou conta de mim. Estava longe, numa viagem pra lá da realidade. De repente,  um toque leve no meu braço. Não sei se demorei para perceber, mas quando olho para quem estava me chamando, tomo um susto, um susto bom. Era ela, amiga que não via há anos. Abrimos um sorriso que iluminou a alma; iluminou o mundo.

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