Minhas mãos estão geladas. Nada as fazem aquecer. Estou totalmente paralisado por um frio que não deveria existir. Nesta transição outono-inverno, escondo-me em casacos, toucas e cachecóis. Não gosto das luvas, perco a sensibilidade, sinto-me como se estivesse envolvido por uma espécie de barreira que não me permite sentir as coisas.
Minhas mãos são a extensão de meu coração. Faço delas o meu vocabulário. Com elas demonstro todo o tipo de sentimento. Quando com raiva, cerro-as de tal maneira que é possível ver, mais tarde, os sinais das unhas em suas palmas. Nervoso, não canso de esfregá-las. Cubro meu rosto quando não quero ver ou quando não quero ser visto.
Minhas mãos estão geladas e nada as aquecem. Elas estão geladas de frio e medo.
Talvez elas estejam assim pelo seu silêncio. Não sou bom com as palavras, sou melhor com as mãos. Com elas digo que amo; com elas demonstro desejo; Com elas imploro mais um pouco e com elas a impeço de fugir de mim.
As minhas mãos são parceiras e amigas. Elas disfarçam a minha timidez. Chegam à frente em um abraço ou em um beijo. Mapeiam e digitalizam as curvas de um corpo. Enxergam pelos eriçados e a quentura agradável de meus desejos. Elas me informam as condições de estradas sinuosas e sísmicas. Elas se entrelaçam formando um elo acolhedor, transfundindo assim os nossos calores.
Minhas mãos estão geladas. Talvez estejam assim, por não poderem estar próximas de ti; talvez estejam assim , por não poderem, por uma questão de latitude e longitude, dizer: ¨quero você agora!¨. E nesta distância transitória, são elas que me lembram a sua presença.
Minhas mãos são meus olhos e também a extensão de minha língua e de meu sexo.
Paulo Francisco