Durmo contemplando o céu marinho, acordo com ele azulzinho. Não gosto de discursos, gosto mesmo é de poesia. Odeio conversas fiadas, mas adoro uma boa história contada.
Disfarce
E por de trás dos óculos escuros meus olhos sorriem. A minha timidez me confunde. Sim, sou tímido. Dizem que meus olhos falam por mim. Talvez, seja verdade. Falo com eles o que não tenho coragem de expressar com palavras.
Apelo para os meus braços e minhas pernas. Abraço apertado. Mãos que afagam. Olhos que dizem. Meu corpo trabalha em dobro quando o assunto é o amor. Não digo em palavras – sou tímido demais para expressar o que sinto. E nesta aventura me desnudo em poemas, suspiros e muito calor dermal.
Sou assim:
Uso óculos escuros para me esconder de mim.
Paulo Francisco
Dueto
Os raios invadem minha casa. Não sei acordar de outra maneira. Não vedo meus olhos pra dormir. Não fecho minhas cortinas. Gosto de ir dormir olhando pro céu. Cochicho com a lua em noites claras e sou acordado pelo sol. Penumbra só em momentos de puro tédio ou em uma grande enxaqueca.
O meu acordar é lento, minha alma me chama e acaricia-me em massagem chinesa. O meu espreguiçar é demorado, pernas e braços são movimentados num vocabulário próprio do balé. Dizem por aí que tudo isto é preguiça. Pode ser, mas só abro os olhos depois de meu concerto coreografado ser todo executado e o coral de anjos terminarem sua canção.
Não tenho pressa ao acorda. Sei que depois tudo vai ser diferente. Tempo pra tudo, horas pra tudo. Não, não me venha dizer que o meu despertar é de preguiçoso – ele é necessário.
Tenho algumas necessidades que vão à contramão do dia-a-dia. Necessito por exemplo de músicas, não músicas enfiadas nos ouvidos como vejo por aí. Necessito dela em minha casa, em meu trabalho, em meu viver. Os meus amigos são canções. Canções das mais variadas. Tenho do Rock ao Fado; do Forró a canções francesas. Os meus amigos são diversificados.
O gostoso é quando a discoteca está em minha sala. Concerto de primeira. Festival de repertório.
Engraçado, tem gente que mal conhecemos e já se torna música aos nossos ouvidos. Conheci por um tempo desses uma mulher que aparentemente me pareceu ser uma música francesa, mas depois, ela foi se mostrando que também podia ser uma bela canção de musica popular brasileira. Gostei dela.
Ela gosta de dormir na penumbra, mas deixa uma frestazinha na cortina para ser anunciada pelo dia que está na hora de acordar. Os raios invadem seu quarto de maneira sorrateira. Seu espreguiçar é menos coreografado, mas as suas poses são dignas de quadros sensuais.
E nestas noites, certamente, abandono a lua, esqueço o sol. E a penumbra é minha amiga.
Num duo, alguém tem que ser a primeira voz.
Paulo Francisco
Coração tranquilo
Resolvi voltar pra casa andando. Meus pés, minhas asas. Assim, teria mais tempo para admirar os fantasmas em galhos e sombras. Gosto de imaginar personagens e objetos possíveis em árvores e muros manchados. Divirto-me e esqueço-me do tempo, da lua e das estrelas. Neste meu momento, não existe céu e, sim, um quadro negro para o meu imaginário. Rabisco, com giz invisível, rostos, invento palavras e construo castelos. Sigo o mesmo ritual do menino franzino, que andava em ruas escuras segurando a barra da saia de sua mãe. Volto num tempo que a minha inocência era o meu pote de ouro.
Andava lentamente, sem pressa, saboreando cada passada. Não sentia o véu orvalhado, que dançava em minha frente. seguia o mais lento possível, não queria chegar logo, queria que o tempo demorasse a distância em que o meu coração se encontrava.
A calçada brilhava – ela estava serenada.
Não estava frio, mas também não estava quente. Estava na temperatura de meu corpo. Mesmo que o termômetro insistisse em anunciar seis graus.
Eu precisava pensar e, pra mim, nada melhor que andar na madrugada silenciosa e fria.
Gosto do silêncio noturno. Silêncio, somente quebrado pelo piar da coruja e o barulho do vento. Mas eles não eram intrusos e, sim, parte de meu templo chinês.
Seguia conversando comigo mesmo. Podia até falar alto que não tinha uma viva alma para me censurar. E os mortos, certamente confabulavam, em total silêncio, o meu pensar.
Às vezes me pego falando alto em pleno passeio público. Fico totalmente sem graça, quando percebo que uma ou outra pessoa possa ter ouvido os meus lamentos. O mais engraçado é que só penso alto quando estou agitado, quando uma decisão importante está por vir.
Quando triste, chateado, fico silencioso, carrancudo.
Em casa, eu canto, converso com as minhas cadelas, falo comigo mesmo. E daí? Não tem ninguém para me censurar ou me chamar de louco. E quando me encolho debaixo das cobertas, cultivando o meu silêncio, também não tem ninguém que me tire as cobertas e me deixe no frio.
Ultimamente, não estou sentindo frio e, alto, somente o som das músicas que tento acompanhar desafinadamente. Coitados dos meus vizinhos que têm de ouvir a minha preferência musical.
Mas neste exato momento, não estou triste e nem tenho que tomar nenhuma decisão importante. Simplesmente estou feliz
Paulo Francisco
Guiado por um céu azul
Ontem foi um dia especial, traduzo-o como o mais azul dos últimos
dias. Estava aqui em minha rede, em pleno ócio, olhando lá pra fora e me
perguntando o que estava fazendo em casa com um dia tão lindo. Mas têm dias que
eu prefiro admirá-los de longe, de soslaio. Mas o sol estava
convidativo, a brisa chegava acariciando o meu corpo com mãos de seda. Não
resisti e acabei saindo sem destino, como barco a vela guiado pelo vento. Bermuda, chapéu, mochila e vontade de caminhar por aí. Encontrei
vários rostos conhecidos, várias imagens foram registradas pela lente de minha
máquina. Segui até o Parque Nacional – gosto de me sentar próximo
a cachoeira e ficar ali lendo e observando os corajosos banhistas.
Ontem foi um dia especial. Sem destino, ao vento, guiado pelos
raios solares pude me encontrar com a natureza que tanto prezo.
Depois de um bom descanso à sombra daquela árvore secular, segui o
meu caminho, segui pro meu objetivo - ir ao topo de uma das trilhas existente e
contemplar lá de cima minha cidade e registrar aquele céu azul.
Mas ele ficou mais azul quando de repente encontrei-a sozinha
seguindo o mesmo caminho que o meu. Sorrimo-nos, abraçamo-nos, e caminhamos
juntos o percurso seguinte. Descubro, então, que o céu azul e a brisa
refrescante, convidavam-me pra um encontro inesperado. Desde a morte de Ana
Beatriz que não via nenhuma de suas amigas.
Às vezes é bom relembrar, viver e contar e recontar o que foi
bom.
Ontem foi um dia especial. - olhei para o céu e ele estava a
sorrir.
Ontem foi um dia daqueles que a gente não se esquece nunca
mais.
Amanhã eu parto pro mar. Vou ver outra Ana e outra Maria. Amanhã
estarei com o meu primeiro amor, Maria minha mãe, tantas vezes registradas nos
meus pequenos relatos; amanhã estarei juntinho de Ana, a caçula de minhas
irmãs.
Ontem foi um dia especial, amanhã, certamente, será muito
mais.
A lua só existe para os sonhadores?
A lua só existe para os sonhadores?
Ficar ali, na rede, namorando a lua é
típico de mim. Gosto e não nego. Sou um sonhador nato. Sonho com a
possibilidade de um amor que me faça astronauta, que me faça flutuar até a lua.
Tenho certeza que em algum lugar tem alguém olhando pra lua de maneira
sonhadora, querendo este mesmo flutuar. A lua tem essa magia de nos hipnotizar
e transformar-nos em viajantes estelares.
Estava escrevendo este texto quando o
telefone toca e era uma ¨ex-namorada¨ em prantos me cobrando uma
atitude com relação a um poema que fiz. Acusando-me de dissimulado, cafajeste,
sacana e sei lá o quê. Oras, eu não postei nada que pudesse denegrir sua
imagem ou seus sentimentos.
Demorei pra entender que na verdade ela
ainda tinha a esperança de uma volta. Ela tinha, eu não. E o que eu postei foi
um poema com relação a duas fotos de flores que ganhei de uma amiga do nordeste
de quem gosto muito.
Pois bem, era isso que eu queria falar
e não estava conseguindo me expressar de maneira clara a respeito: namoro a
lua, gosto de contar estrelas, faço poemas bobos, escrevo sobre o amor da
maneira mais singela, quase adolescente e, mesmo assim, sou chamado de
cafajeste. Será que sou? Agora já não sei mais se sou ou não. Talvez eu seja.
Sou um cafajeste que canta ao amor, que manda flores, que faz textos
apaixonados e diz que ama quando ama. Sou um cafajeste que aceita acusações
indevidas simplesmente pra não magoar o seu par. Sou cafajeste por sair de cena
quando percebo que a relação se desgastou. Sou cafajeste porque acredito numa
amizade depois do término de um namoro e, não admito picuinhas, intrigas - já
passei da idade pra aceitar tais comportamentos infantis.
Não quero mais um amor neurótico onde a
insegurança transforma o certo em duvidoso. Não sei ficar me desculpando com
relação ao que não fiz, simplesmente pra espalhar a nuvem negra que paira em
nossas cabeças. Isto cansa.
Não, não sou dissimulado, jamais
consegui dizer ou fazer o que não estava pensando. Às vezes me faço silêncio,
porque acho que dentro desse meu silêncio eu posso vir a gritar as minhas
neuras. Ninguém tem que aguentar as minhas inseguranças, não vou jogar naquela
que me ama a lama fétida de meu passado inseguro. Também não aceito que façam
comigo.
Sou um viajante estelar, quero um amor
que flutue comigo e não um amor que põem bolas de ferros em meus pés e me
algeme com argolas da desconfiança e que tape minha boca pra que meus
textos não grite ao amor. Sou livre, a arte é livre, o pensamento é livre.
Gosto de me embalar na rede, num vai e
vem de sonhos. Então, não tente empurrar o meu corpo, porque ele não está
morto. Também sinto dor.
A lua não só existe para os que
sonham. Mas, para os que não sonham, a lua é simplesmente um satélite.
Paulo Francisco
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