Eterno luto


Ela era pesada. O negro era sua segunda pele. Raramente sorria. Nunca conseguia fazer um elogio espontâneo. No trabalho, o seu cargo de chefia criou a ilusão de que era deusa. Nos finais de semanam trancava-se dentro do apartamento. Adorava assistir a filmes classe B de suspense - maneira torta de se divertir.
Envelheceu, sem um amigo, no máximo conhecidos. Nunca deixou de trabalhar – já fazia parte do mobiliário da empresa.
Semana passada, faleceu. Os poucos colegas do trabalho e, alguns parentes, compareceram ao velório.
O surpreendente foi que todos estavam com roupas floridas ou com um colorido extravagante – maneira silenciosa de festejar a sua partida.

Paulo Francisco

A píntora

Pintora amadora. Sempre gostara de pintar paisagens - natureza morta. Nunca feições humanas. Espantou-se, quando resolveu fazer o seu auto-retrato. Quantos traços, quantas camadas de tinta sobrepostas na tela. Esqueceu-se de olhar no espelho. Não acompanhou o surgimento de cada traço em sua face. Exclamou:
-Estou velha!.


Paulo Francisco

Elétrica

Frenética. Desconfia-se de que seja hiperativa. São raros os momentos de reflexão Um exemplo de energia humana. Se para, pensa, se pensa, desmorona. Agito – uma boa camuflagem para fugir da realidade.

Paulo Francisco

Engano

Todas as vezes que se encontravam percebiam que cometeram um erro. Mas a volta seria, certamente, um erro maior.
Só restou a eles o arrependimento.

Paulo Francisco

The end

Os seus pensamentos ultrapassavam a barreira da amizade. Havia amor e desejos. Mas também havia medo. Então, o melhor era retrair-se e velar um amor platônico.
Ela viveu todas as fases de uma relação: namorou, noivou, casou, foi traída e por último ficou viúva... e sozinha.



Paulo Francisco