Aquatrela

No trem da vida, todas as cores. Passagem livre para o amor. Não permitida a dor. No trem das cores, o azul, a cor de minha vida. E nesta viagem de cores, me diga: Qual seria a sua cor preferida?


Paulo Francisco

O homem

Saiu de cena à francesa.  Ele era mestre em desaparecer no melhor da festa.  Sempre fora assim. Nunca gostou de multidão; nunca soube lidar com o excesso. Seu amor era miúdo, calado, nada de explosões em noites sem lua.  Homem de poucas falas, ouvia com os olhos e respondia sempre com um sorriso nos lábios. Seria um debochado, se não fosse tímido. Ninguém mais o viu. Dizem que viajou – foi para o interior, construiu uma casinha no mato e lá permanece a conversar com os pássaros, enquanto espera o resultado do cruzamento de flores exóticas. Outros já acham que ele nunca mais saiu de casa – continua no mesmo lugar, confinado por causa de um amor perdido. Os exagerados afirmam que ele ganhou na loteria e se escafedeu, caiu no mundo em cruzeiros e jogatinas. Os tenebrosos acreditam que o desaparecido aderiu a uma seita clandestina e está se preparando para destruir com o Opus Dei.
Há quem diga que ele simplesmente morreu.
Há quem diga que ele nunca existiu.
E nesta confusão criada eu pergunto:
 - Quem é esse que eu inventei?
Eu mesmo respondo:
 - Não sei.


Paulo Francisco

O presente

A menina queria um cão, mas acabou ganhando um Hamster. Não ficou triste, mas também não ficou contente. Ficou silenciosa, reticente. Sua mãe, não aguentando a atitude da filha, foi logo perguntando: ¨Filha, você não gostou de seu presente?¨ A menina, sem titubear, responde: ¨Esta pergunta você deveria fazer a ele e não a mim.¨ A mãe, admirada, com a resposta da menininha diz: ¨Por quê? E a menina responde de imediato: ¨ Ora, quem ganhou uma casa nova, com roda gigante, escorrega, tubo para correr e uma menina como empregada para limpar suas bagunças?¨
A mãe, sem fazer nenhum comentário, sai correndo para o quarto e com o lençol da cama em sua boca se arrebenta de tanto rir.
No dia seguinte, um Chihuahua bateu-lhe à porta.


Paulo Francisco

Cavalheiro

Lembro a ti: Tenho alma e sei sentir. Em meus cortes o vermelho sangue se esvai. Sou temente a Deus. Juro! Cumpro a lei do amor. Não quero ser um pecador. Não sei fazer tocaia. Sou um livre pensador. Tenho em mim o desejo e só te quero bem. Não crio imagens falsas, sou escravo de meus anseios. Sou uma peça da natureza. E se não tenho beleza, sobra nobreza em meu coração.


Paulo Francisco

Fuso horário





Acordei no meio do meu sono.
Não, não era de madrugada.
Era meio dia.


 Paulo Francisco