Estava pensando em escrever um texto para o blog quando
toca no rádio Selah Sue cantando Alone. Caí na gargalhada e pensei: só falta
tocar agora a música Sempre será do Araketu. Não tocou. Mas como gosto da
completude no sentir, fui na pasta de músicas e busquei a canção que conheci há
pouco tempo – foi um presente. E como o texto que estava pensando era para quem
me presenteou com a mesma (por isso as gargalhadas), pensei baixinho enquanto
ouvia Tatau: Sintonia noturna? Conexão
afetiva? Um sorriso abriu em meu peito e o meu coração seguiu o balanço da
música e as palavras surgiram na tela do computador.
Todos sabem que gosto de escrever as minhas complexidades
amorosas, extravasar em palavras as paixões retidas, metaforizar os desejos
ocultos, emergir algumas vontades e exorcizar os meus fantasmas. Mas quando
escrevo sobre ela ou para ela, há carinho, respeito, bem querer e muito tesão à
flor da pele.
Sorria para disfarçar as mãos frias e suadas. Tentava ser
o mais natural possível. Mas os olhos cheios d’água traíam o inútil disfarce de
um macho que sofria por dentro com a triste e a inevitável despedida. A certeza
do nunca mais era flecha no coração – apache abatido como presa no seu próprio
habitat. Morte lenta e sofrida até a próxima paixão.
A razão pedia para parar. Sabia que se teimássemos em
continuar com aquela loucura algo de ruim poderia acontecer. Às vezes, o
sacrifício é necessário para continuarmos vivos. Água desviada de seu percurso
pode salvar, mas também pode alagar e afogar. O coração dizia sim, mas a razão
gritava não.
Desembarquei no primeiro cais sem molhar os pés. Já estava
acostumado a ficar às margens na metade do percurso. Coisa de quem viaja na
maioria das vezes na clandestinidade.
Nada além de noites furtivas banhadas por vinhos e
salpicadas por beijinhos. Tem relação que só funciona no silêncio da noite. Não
tínhamos interesse em mudar nada na gente e na relação construída. Em noites
carentes salvávamos com um chamado. O trato era sair como entramos, sem
cobranças e sem perguntas. Numa noite de lua azul, o silêncio cobriu-nos como
manto e os nossos rostos desapareceram como mágica na escuridão.
Com o pé quebrado e sendo paparicado por quem me guardou
no ventre e sentiu a dor de me parir numa tarde de domingo, fico aqui no
computador escrevendo meus delírios e descrevendo fragmentos de amores antigos,
opacos e ruídos pelo tempo.
Fui, certamente, culpado na maioria das vezes que me
encontrei naufragando nas minhas próprias lágrimas. Já solucei, chorei rios,
escrevi poemas como forma de testemunho e vingança. Catarse necessária para
poder continuar essa jornada que para muitos é leve e natural. Sempre fica
pedaço de mim pelo caminho – dificilmente saio inteiro numa despedida. Mas nem
por isso deixo de tentar encontrar o que me fará inteiro outra vez. Agarro-me
nas asas da esperança e sigo sem destino à procura de um colo que me abrigue
sem nenhuma cobrança e apelos.
Hoje encontro-me só, mas ainda continuo ouvindo canções
de amor.