Fechava os meus olhos na esperança de alcançar. Não perdia a mania de achar que os meus pensamentos tinham superpoderes. Achava que se desejasse com força e do fundo do meu coração alcançaria o que queria. Poucas foram as vezes que o desejo acabou em decepção.
Acho que essa mania de ¨superpoderes¨ veio
das brincadeiras de criança. Lembro-me bem de uma técnica infalível de
conseguir tirar boas notas nas provas bimestrais ou de pelo menos delas não serem
tão baixas. Antes de deitar-me, sentava em minha cama e fazia em pensamento, a
rotina do dia seguinte. Imaginava todo o
meu itinerário indo e vindo do colégio.
Construía uma calmaria enfeitada de coisas boas e sorrisos. Como eu não
era tão ruim como aluno, acabava acreditando que o meu pensamento era poderoso.
Depois, já quase adulto, fechava os olhos na esperança de
voltar a ter aquele poder de alcançar. Ah, quantas vezes eu acreditei
inutilmente que era capaz. Cerrava os
olhos tão forte que ao abri-los ficava zonzo e cego por alguns segundos. E
quando tudo voltava à realidade, meus olhos marejavam em decepção e claridade.
Mais tarde, já não pensava em alcançar somente com os meus
pensamentos infalíveis – agia com a razão que em mim foi construída as duras
penas pelo tempo – ir à luta pra conquistar. Vida humana ainda de capa e
máscara. Ninguém escapa de sonhar.
Resquícios são resquícios – ficam.
Permaneceu em mim a ingenuidade de achar que os meus
pensamentos chegariam à lua, que as estrelas dançariam com a minha canção de
amor. Cheguei a acreditar que ela me ligaria por nada, simplesmente porque
estava pensando em amá-la naquele momento. O telefone continuou mudo até que eu
tomasse a iniciativa – pura realidade adulta e amores infantis. Ninguém escapa
da criança que um dia já foi.
Hoje, fechei os meus olhos na esperança de alcançar. Voltei
no tempo e recriei um novo caminho. Não
sei se vou conseguir. Mas se não tento como sabê-lo?