Um dia fui visitado por um passarinho. Acordei com ele cantando em minha janela. Observei que seu canto era, ao mesmo tempo, de felicidade por estar ali, livre e de lamento por não saber o que fazer – era um passarinho anelado e anilhado. Sim, era um pássaro de gaiola.
O que acontece com aquele que tanto deseja sua liberdade, mas não sabe o que fazer com ela? Torna-se um passarinho na janela? Fica com medo de voar, ou de ultrapassar aquele vão e se tornar de novo um prisioneiro?
Percebi, observando o cantador, que uma vez domesticado jamais teria sua vida selvagem de volta – o mundo lá fora é competitivo e cruel. Possivelmente seria uma presa fácil.
Quando já estava resolvido a capturá-lo, fui interrompido por palmas no meu portão – era um jovem de seus vinte anos. Notei que segurava uma gaiola de madeira – era, certamente, o carcereiro do fugitivo. Deixei o jovem ignorante entrar e fazer sua captura.
Pensei em textualizar sobre a preservação e o crime que é capturar e prender uma espécie silvestre, mas desisti – sabia que não adiantaria, não seria ouvido. O mais importante, naquele momento era a felicidade do penoso indeciso.
O jovem, estrategicamente, colocou a gaiola a certa distância do animal, colocando alpiste e água fresca no interior daquela prisão de madeira e se afastou em movimentos felinos.
Fiquei ali torcendo para que aquele frágil animal vencesse seu medo e voasse para longe pra nunca mais voltar. Mas, não é bem assim para quem tem medo do desconhecido. E, em pouco tempo, lá estava ele dentro de sua cela se refrescando numa banheira de água fresca.
Abri o portão e os companheiros se foram cantando caminho a fora.
Hoje eu acordei e fiz de minha janela um poleiro, danei-me a cantar.
Paulo Francisco
este passarinho se parece comigo:Eu estou sempre lutando para ter a minha liberdade,mas termino sempre presa em uma gaiola.
ResponderExcluirÉ uma pena Paulo que você deixou ele ir embora.
Beijinhos.