A casa era antiga, branca, com portas e janelas encardidas.
As maçanetas de porcelana com desenho floral eram beleza à parte, mesmo com o
amarelado do tempo e de pouco cuidado por aqueles que ali habitavam. Tudo era
antigo. O ranger das tábuas do assoalho, a falta de lubrificante nas dobradiças
das portas, os rachados nas paredes e os vidros trincados dos vitrôs, que
certamente já foram mais coloridos, compunham juntamente com a dona da casa, um
cenário de terror e encanto.
Não sei se a casa ainda existe ou sequer se ela existiu um
dia. O que sei é que ela está viva na minha memória que aos poucos começa a
fragmentar-se. Não sei se é uma casa inteira, ou pedaços de muitas outras.
A velha gorda, enrugada e quase inválida, possivelmente é
uma personagem inventada. Um desejo silencioso, praga rogada por muito tempo àquela
que um dia me fez sofrer.
O mais estranho, ou engraçado – não sei- é que o quintal
estava sempre cuidado, as árvores arbustivas estavam impecavelmente podadas, as
flores sempre vivas e coloridas, os bancos de ferro pintados de branco, o
caminho sinuoso de granito cinza e seixos cristalizados pareciam novos, como
não se pertencessem àquele lugar. Era o oposto da casa maltratada, da velha
gorda e enrugada, sentada na cadeira de balanço, mirando pela janela todo
aquele frescor.
Havia luz, brilho solar, vento acariciando as folhas das
árvores. No quintal, havia esperança – o inverso encontrado no interior da casa
antiga.
Como sempre, lindooooo texto!! Parabéns.
ResponderExcluirEssa casa era a sua? Tinha banheiro cor de rosa? rs Se a casa era linda por fora, tem de ver por que não é por dentro também.
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