Certezas

 











O vento chegou forte. Corri para fechar as janelas e portas. Com ele, veio a chuva. Com ela, vieram as trovoadas e relâmpagos rasgando o céu cinzento. Durou menos de uma hora, mas o suficiente para que as lembranças antigas brotassem da minha mente.

Os espelhos eram cobertos, as tesouras eram guardadas, as tomadas dos aparelhos elétricos eram desplugadas e o fósforo e um maço de vela ficavam esperando em cima da mesa caso a luz fosse embora de repente. Geralmente ia.

Engraçado, depois de décadas a eletricidade ainda cai quando há relâmpagos. É claro que desligo tudo, no entanto, as velas foram substituídas por lanternas.

Confesso que em dias assim de muita chuva, fico mais absorto, desligo-me do caos lá fora e visito os mais profundos dos pensamentos. Lembro-me dela rezando baixinho a cada trovoada ou relâmpago. Achava estranho um adulto sentir tanto medo de uma coisa tão natural. Hoje, entendo o seu pavor. Só quem passa por determinadas situações provocadas por temporais sabe a força que a natureza tem.

Um dia desses, Gabriela – amiga do trabalho - alertou-me sobre as quedas frequentes de energia na cidade e que era interessante eu usar aparelhos contra surtos de energia. Saí comprando vários desses dispositivos. Melhor prevenir que remediar, já dizia os antigos.

Sempre que chove forte na cidade, Maria liga pra saber se está tudo bem comigo. Antes, achava divertida tamanha preocupação. Hoje, se ela não liga sinto falta. Só quem passa por determinadas situações sabe a força que uma amizade verdadeira tem.

Estou aqui, escrevendo o texto e esperando o celular tocar. Sei que ele vai tocar.

2 comentários:

  1. A sua descrição sobre as providências que as mães, geralmente elas, são uma característica de minha infância também, tirando o fato de cobrir espelhos que não acontecia em minha casa. Tem tantas coisas que amedrontam tantos, mas racionalmente não deveriam, pois são fenômenos já bem explicados. E então a sua Maria te ligou? Que bom que voltou.

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  2. Olá ! Vsitando seu blogue e sua descrição sobre temporais ou dias de chuva forte tb me realçaram as lembranças. Mãe rezando baixinho , a vela benta acesa na mão , os ramos bentos secos prontos a serem queimados para afastar trovões e relâmpagos . Não entendia tb na época porque tanto medo . Mas hoje a vida tem muito nos ensinado . Abraços .e

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