Era o derradeiro. Seu grito ecoava pela casa. No assoalho de madeira, roupas espalhadas, como se fossem dermes arrancadas. Sua pele ferida, por um amor perdido, manchava-se de sangue que aos poucos se diluía no piso frio do boxe, esvaindo-se para o ralo.
Os soluços se confundiam com o barulho da água batendo em seu corpo encolhido naquele ambiente esfumaçado.
De alma lavada, bastava-lhe recolher os cacos espalhados pela casa. E assim o fez.
Num transe absoluto, permanece deitado entre ninho de lençóis.
[silêncio]
Era o derradeiro. Seu grito ecoou pela casa.
Paulo Francisco
Durmo contemplando o céu marinho, acordo com ele azulzinho. Não gosto de discursos, gosto mesmo é de poesia. Odeio conversas fiadas, mas adoro uma boa história contada.
A Rival
Assim ela o fez. Mostrou-se inclinada a uma possível aproximação.
Aliviada com a resposta obtida, pode continuar amando o seu segredo e pensa: ela será minha e demais ninguém.
Nenhum homem conseguiu aproximar-se de verdade da outra.
Paulo Francisco
Promessa
Não sei até aonde chegaremos. Quero abraços apertados e desejos cumpridos num ritual. Beijos escancarados em corpos fechados ao natural. Sem promessas e nem juras eternas. Quero o instante. Estamos urgentes em nós dois. Não sei se chegaremos ao fim. Mas quero o começo de todo este encanto. O resto fica pra depois. O que eu quero é poder regar o amor. Descobrir o pavor e poder gritar. Raia de emoção, olho do furacão. Turbilhão em se dar. Não sei se chegaremos ao fim. Mas o começo é necessário. Tá no meu inventário: um dia vou te amar.
Paulo Francisco
Pano de fundo
... o cenário se fez: a claridade deu passagem à penumbra leitosa que invadiu o sobrado. Da sacada, pensativo, viu-se preso à vertigem de um olhar saudoso.
O cenário se fez: deitou-se na rede e embalou os seus desejos. Adormeceu e sonhou.
Sonho de lembranças
Sonho de esperanças
Sonho de possibilidades
Acordou e não acreditou. Esperou mais uma vez a lua e com ela embalou seus desejos até adormecer.
Mais uma vez o cenário se fez... Inutilmente.
Paulo Francisco
Paulo Francisco
Passagem
Ela o olhou e sorriu. O seu olhar de pedra se desmanchou em areia - não pode deixar de sorrir também. Era final de tarde e os raios solares cortinavam as suas faces. Mais uma vez ela sorriu; mais uma vez ele se desmanchou. Ela seguiu em frente. Ele continuou a sorrir parado no tempo. Tempo sem cor. E a tarde se foi junto com os raios...
Paulo Francisco
Paulo Francisco
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