Sedução




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Sempre que estou com ela descubro que nada sei. Estou sempre aprendendo outros caminhos – mapa mental que massageia e excita o meu bem querer. Ela sabe mexer comigo, sabe ser dengosa e menina na dose certa. Gosto desse seu mimetismo feminino que cada vez mais deixa-me atraído. O predador sempre se perde com o inesperado.

Quero gargalhar mais e brigar menos. De repente ela se zanga. Entra na contramão do afeto. Fico perdido sem saber o que fazer. Não é da minha natureza ficar calado. Tento argumentar, mas é impossível dialogar com quem sempre acha que tem razão. O jeito é deixar tudo como está, pois depois de meia hora, tudo voltará, com certeza, a ser como antes. O mar continuará azul, as montanhas verdejantes e seu sorriso me pegará de mansinho mais uma vez.

Ela é ciumenta demais. Mas eu nem ligo. Eu sei que o encontro do rio com o mar não é uma coisa fácil. Tudo é água, mas uma é doce e a outra é salgada. Energia necessária nesse turbilhão de sentimento de nós dois. 

Essa minha obsessão por uma paisagem perfeita, onde o afeto tem que ser como um manto sagrado e o amor como um grande abraço de corpo e alma, possivelmente atrapalha a leveza de termos uma relação duradoura. O defeito não está nela e sim em mim.  A obsessão é minha, a psicossomatização é minha. Meu corpo, minha dor. E tudo dói. Dor miúda que estremece tudo e faz o corpo chorar. Choro velado, preso no peito, solto somente no silêncio da minha casa.

Esse meu jeito arredio, de querer estar longe de tudo e fazer da lua e das estrelas minhas companheiras e confidentes, talvez seja uma defesa a esses amores possíveis – eles machucam como navalha. Mas por mais que eu tente fugir, chegam encobrindo tudo, deixando-me tonto de tanta sedução. Acabo abrindo a guarda e quando dou por mim, estou num barco à deriva, perdido, sem norte, ao vento, na esperança - mais uma vez - de pisar em terra firme.

Hoje, eu estou assim: falando dela, de mim, dos outros e principalmente de nós. Misturando tudo: passado, presente, realidade e sonhos. Tinta escorrida jogada na tela que antes era branca, ou quase branca ou menos branca que a minha saudade. Um jeito tosco de esconder algo que está querendo brotar em mim. Algo que rasga a pele de dentro para fora, como a planta que desponta na fresta de uma rocha, dando a falsa impressão de que foi ela quem a pariu. Mas a vida não é somente sensações, é imensidão, é infinitude na dor e na alegria. 
Hoje, hoje eu estou assim: querendo a mansidão depois de uma inquietude amorosa e o brilho em seus olhos, pedindo para ficar. E os nossos corpos unidos e aflitos, querendo recomeçar.

Hoje, hoje eu quero conhecer novos caminhos, construir novos mapas mentais e tácteis e aprender com ela um pouquinho mais.
Hoje, hoje eu estou assim: querendo bons momentos, para depois gritar de peito aberto o seu nome.


Precisão

Largue tudo e venha ficar comigo. Não diga nada, simplesmente entre debaixo da coberta e aconchegue-se ao meu lado. Abrace-me apertado e aqueça meu corpo carente de amor. Não, não estou depressivo e muito menos triste – estou é com muita saudade de tê-la perto de mim. Macho também necessita de carinho, de beijinhos no pescoço, de sussurros que encharcam os olhos e ressuscitam velhos pensamentos. Venha, a recíproca sempre será verdadeira. Cê sabe que sim...

Muitos sabem que gosto de ficar no meu recanto - longe de tudo e próximo do céu. E são poucos os que sabem como gosto de tê-la perto de mim. Sinto falta dos seus olhos, das suas mãos para poder segurar, das nossas conversas soltas ecoadas pela casa e das poesias marcadas na derme. Largue tudo e venha. A porta sempre estará aberta. Não me deixe neste vazio tão difícil de respirar. E se por acaso não puder salvar-me desta solidão de agora, não me conte a verdade. Invente uma história qualquer e mande-me uma mensagem pelo celular.

Não é descontentamento. É coisa presa no peito, sensação de vazio. Sofrimento miúdo de fazer chorar sem saber o porquê. Nunca me acostumei com esse sentimento obscuro, dessa coisa esquisita que chega de repente e mexe com tudo - coisa humana que estraga a alma se não tem outra para acalentar. 
Quando moleque, corria para o colo materno. Hoje, as necessidades são outras, as dores são outras. Venha logo! Não me deixe sozinho com esse sofrer clandestino. Venha resgatar-me dessa escuridão sem estrelas. Você sabe como fazer.

Venha matar a minha vontade de você. Vontade de dizer bobagens sem medo de ser ridículo, de deixar os compromissos para trás e viver como fosse o fim do mundo. Gosto do sorriso que vem de dentro, de tocar o céu da sua boca, da levitação emocional – coisas de Deus. Venha pra eu poder admirar, depois que a lua for embora, seu corpo nu sendo dourado pelo sol.

É vontade de criar uma nova história, fazer uma nova canção, de simplesmente deixar o dia passar lento sem nos preocuparmos com o depois. Quero amanhecer em seu corpo e saciar minha sede de você.  O dia está quase cumprimentando a noite manchando o céu de laranja. As cortinas, a qualquer momento, se abrirão para as estrelas. Nesse instante de Deus quero-te comigo para admirarmos juntos, deitados na rede, o aparecimento da lua.

Esqueçamos os erros de ontem e sigamos juntos nesse recomeço.


Largue tudo e venha, venha dizer-me safadezas na ponta da minha orelha. Venha... a recíproca será verdadeira. Cê sabe que sim...

“todo amor que houver nessa vida”


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Por aqui está tudo nublado. Não sei se permaneço parado à espera da dissipação ou corro ao seu encontro permitindo-me ser coberto pelo invisível. Confesso que assusta não saber o que tem do outro lado da porta: Se a verdade nua e crua ou simplesmente ilusão. Mas, neste momento de pouca visibilidade, pouco importa a surpresa encontrada. O que não quero é chorar de saudade e muito menos sofrer por um amor partido.

Não, não quero mais vagar em caminhos tortuosos, indefinidos, parindo dores ao relento em madrugadas frias. O que quero então?! Ah! Quero um amor tranquilo, sem guerra e mesquinharia. Um amor por ele mesmo, sem apelos, sem disse me disse, porque neste redemoinho, giro de mãos vazias, livre e sozinho.

Podem me chamar de tolo, de louco varrido, mas é desse jeito que quero: um amor sereno, sincero... um amor manso para ser embalado na minha rede e que possa contemplar comigo o azul do meu céu. Não estou à procura do pote de ouro na ponta do arco íris; estou à procura da completude nos olhos de quem quero pra sempre – e isso não depende somente de mim.

Ela não esperava ver-me naquele lugar sagrado. Seus olhos pequenos sorriram quando, sem querer, encontraram-se com os meus. Percebi um suspiro de contentamento que acabou contagiando-me de alegria também. Pensei: O que fiz para gostar de mim assim? Diante de um novo amor, torno-me leve como um dançarino e visto-me de poemas alheios para declarar o que sinto; diante dele, recrio-me em canções e cores que invadem a imensidão que há em mim. Ela não esperava ver-me tão apaixonado assim.

Mandei, numa noite dessas, uma música para ela. Gosto desse carinho musical. Nem sei se percebeu o afeto ou se o gesto simplesmente passou despercebido. Gostaria de mandar música todas as noites como se fosse beijinho antes dormir. Como sou coruja e não durmo antes da meia noite, fico com livros e músicas até o sono invadir-me. Não consigo mudar essa condição noturna – a noite também é minha amiga. Se não a tenho para me dar beijinhos, tenho as estrelas oferecendo carinho.

O sonho de ontem não foi nada tranquilo. Não tinha jardim nem montanha, estrelas e lua. Não estávamos num lugar paradisíaco, tampouco na multidão. Éramos somente nós, o sofá e a penumbra banhando os nossos corpos nus. Tem sonho que não precisa de paisagem, somente a presença ou a sensação do outro. Sempre que sonho com ela em madrugadas silenciosas, acordo molhado e febril.

Agora, agorinha, mandou-me uma charge bonitinha com a Lucy e a Sally Brown. Talvez seja a maneira de dizer que lembrou de mim, ou simplesmente mandou por mandar – por eu ser mais um nome na tela de seu celular. Nada além disso. Não gosto dessas mensagens subliminares, as metáforas pertencem à minha timidez. Preciso da claridade para caminhar em segurança, mesmo que o chão esteja forrado de estrelas.

Em cárcere tudo é mais complexo. A liberdade simplifica o mundo. Quando fui questionado por onde andava, percebi que as asas me davam possibilidade de ir e vir sem restrição. Gostava, antes dela, da vida solta, qual a distância ficava somente na imaginação.

Nesse instante amoroso, sinto-me preso ao chão – mas gosto da segurança que ela me traz. Nesse instante, adoraria estar colado em seu corpo, na esperança de nunca mais largar.

Lá fora, a neblina esconde a noite. Aqui dentro, no silêncio do meu quarto, fecho os olhos e viajo no escuro, só para vê-la dormindo.

Inconstante


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A lua cortada no céu, o vento batendo ligeiro na cara, o corpo num vai e vem ansioso, eram prenúncios de que algo estava para acontecer naquela noite embaçada. Quando surgiu ao longe com passos curtos e firmes não tive dúvidas - era o fim. Tentei argumentar; meus olhos apelaram, minhas mãos imploraram e o único som ecoado naquela noite foi um adeus lento e sussurrado. Tentei desesperadamente segurá-la pela cintura; queria que me ouvisse, que ponderasse o meu deslize, que acreditasse nas minhas juras de amor -  sempre verdadeiras. Mas num jogo rápido de corpo, desvencilhou-se como gata selvagem. Por poucos centímetros não ganhei cinco linhas paralelas no meio da cara. Dei um passo para trás... Meus olhos renderam-se mirando sua silhueta distanciando-se para nunca mais. É sempre assim: coração vagabundo sempre se perde em noites frias.

Sabíamos que só aconteceria naquele instante. Não teríamos outra chance se não fosse ali no meio do nada, na vastidão enfeitada por flores. Transformamo-nos em dois antropófagos famintos de amor. Devoramo-nos num ritual molhado e quente. Depois da letargia momentânea, seguimos, sorrindo, em direções opostas. Não tem jeito: coração vadio sempre segue seu caminho sem olhar para trás.

Estava guardado por tanto tempo que era certo não acontecer. Vontade não declarada é o mesmo que andar olhando para o nada – não se chega a lugar nenhum. Quando o jogo parecia estar perdido, que o tesão ficaria retido pra sempre, as peças se mexeram e o jogo virou. Para minha surpresa também havia fogueira do outro lado.  O segredo transformou-se em chuva numa tarde quente de primavera. Depois de tantas tardes molhadas, de confissões escancaradas, o adeus foi inevitável. O coração já sabia: Tudo que é bom, acaba logo.

A probabilidade de acontecer era alta, mas a malemolência mais forte. Não estava me fazendo de difícil, muito menos desdenhando de quem estava querendo. Entretanto, quando pensava em compromissos velados, horários a cumprir, disfarces à multidão e aturar certas atitudes, meu corpo arrepiava-se como o de um gato. Não havia tempo para perder com discussões. Não demorou muito me cobrir de silêncio. Coração calejado, não atura frescura.

Achando que já tinha passado por tudo, acabei abrindo a guarda e quase dancei. Impossível não notar todo aquele charme: boca linda, olhar sacana. Quem não gosta de um dengo gostoso?  Parecia conhecer-me pelo avesso – vantagem das experientes que sabem o querem. Apaixonei- me como um adolescente. Fiquei de quatro por muito tempo. Mas gato escaldado não gosta de chuva. Quando fui encostado na parede, a realidade veio à tona e a lua de mel terminou ali. Coração ferido, demora a sarar.

Esse coração de asas longas ainda não encontrou seu ninho. Vive  como  passarinho perdido em pleno ar.

- Perdido?!

Incompreensível


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O que fez para eu sentir tanta saudade assim? Às vezes me pego distraído, olhando para o teto à procura de seu rosto. Permaneço no escuro, mergulhado no silêncio, tentando ouvir o seu sorriso. Somos tão diferentes em tantas coisas... Enquanto se joga no seu querer, guardo o meu dentro da timidez. Talvez tenha medo de ter um ombro como o seu para acolher-me e depois, por qualquer motivo, encontrar-me no vazio. Não seria a primeira vez tamanha decepção. O sofredor sabe o que acorda sua dor.

Mas mesmo assim, ainda quero um amor maior que o dos poetas. Viver intensamente por mais que seja efêmero. Fazer o que se a carência transborda e torna-se rio? Navego em mim espalhando para longe a tormenta deixada por tantas. Quero sim, um amor grande, daqueles que só percebemos quando não dá mais para fugir. Asas podadas para um caminhar seguro.

A luz seria menos clara se não fosse você. Os meus olhos descansam em sonhos quando têm os seus como guia em noites sem lua. Sou e acho que sempre serei um menino equilibrando o seu corpo sobre muros velhos e craquelados. Ladrão de frutos alheios. Vapor dissipado para não ser encontrado. Ave volátil que migra à procura de novos ninhos. Confuso? Ambíguo? Contraditório? Talvez... Nunca me achei perfeito. O meu espelho deixou de ter aço há tempo. Prefiro olhar-me através de outras retinas – torno-me verdade e amor.

Hoje, aprisiono-me em pensamentos. Guardo o meu desejo na alma. Quem sabe um dia, tudo isso acabe e eu volte a flutuar? Que o fim esteja longe e eu encontre, nesse ínterim, outros caminhos para voar na direção do meu querer. Estou carente de ar; carente de amor; carente de você. Quero voltar a sonhar-te, mesmo que seja no calor do meio dia. E que a dor futura valha a pena depois da efemeridade do amor vivido.

Não quero permanecer tanto tempo no escuro, tenho medo de nunca mais enxergar.