À Lua
A lua está quase inteira. Chamada nesta fase de quarto crescente. A lua só não é poesia quando ouço alguém confundindo-a com um planeta ou estrela. Aí a poesia é guardada na cabeceira e um pouquinho de conhecimento não custa nada a ninguém. Esclareço:
- A lua é o satélite natural da Terra.
Adoro quando alguns engolem a saliva e exclamam:
- É mesmo! Estudei isso na quinta série do colégio.
Eu não sei se a mãe está certa ou não. Mas ela só corta o
cabelo na lua crescente ou cheia, nunca na minguante. Coitados dos cabeleireiros se essa crendice
fosse comprovada cientificamente.
Com relação às mares, a lua acaba recebendo erroneamente todos
os créditos. O sol tem uma boa parcela de ¨culpa¨ aos tais
efeitos. A relação entre eles, ou seja, se em oposição ou conjunção teremos as
marés. Mas isso é papo pra ser falado na sala de aula. Eu prefiro falar dela de
outra maneira. Prefiro ouvi-la nas canções; senti-la nos poemas e vê-la em seus
olhos ou simplesmente da minha janela. Quando eu nasci a lua estava em quarto minguante. Berrei para
o mundo às quinze horas de um domingo quente e sem chuva. E nesse dia não teve macarrão com
galinha - comida de domingo preferida quando menino. A noite chegou num céu marinho mostrando um pedaço da lua e um montão de estrelas. No outro dia, o deus da chuva lavou a terra e os degraus para que minha mãe pudesse caminhar comigo em seus braços até a sua pequena casa.
Quando olho pra cima e vejo a lua flutuando no escuro,
respiro fundo num desejo sem fim. Sempre acho que ela está lá no alto olhando, tomando conta de mim. E as vezes me sinto tão intimo seu, que começo a contar os meus segredos e desejos. Só a lua mesmo pra entender e ouvir um louco como eu.
Paulo Francisco