Sentado na
varanda da minha casa, ouvindo minhas músicas preferidas; esperando o ocaso
chegar. Abro o pacote enviado por uma amiga querida que logo vai viajar. Dentro da caixa tinha um terço de madeira, tinha
um galo português, tinha um par de canecas, tinha um caderno para anotações, tinha um pote de aniz estrelado, se
não estou enganado tinha uma mandala para pôr na parede.
Ela vai pra
Portugal, Espanha e Itália. Diz que não sabe quando volta, vai ficar pra mais
de mês. Maria não vai com as outras. Maria faz o que dá na telha. Um dia está
no Rio, noutro em Sampa, de repente em Curitiba ou em qualquer outro lugar.
Um dia desses
liguei pra ela. Estava ocupadíssima. Disse-me que estava destralhando, separando
algumas coisas para doação. Perguntou se eu queria a sua coleção de filmes e
outras ¨cositas más.¨ Ri com o tamanho desapego.
Ah! Já estava
me esquecendo. Dentro da caixa tinha uma poesia minha:
não é amarela nem é azul
lá, lá longe...
tem um brilho
azul, não é
amarelo, também não
lá... Debaixo das nuvens
tem o aconchego de um amor
uma cantiga
mãos que afagam
boca que beija
corpo que esquenta
lá longe, muito longe...
tem alguém
que gosta dos astros
que gosta de sexo
que gosta de rir
lá... não muito longe...
tem o que quero
a certeza
a melodia
o dia
a noite
lá, somente lá
estão os meus desejos.¨
Pelo
visto, ela não desapegou dos meus textos. Que bom. Mas quando isso
acontecer. Vou entender. Isso é coisa de Maria!