De repente não a olhava como antes. A paisagem modificou-se
depois do temporal. Restaram o corpo molhado e o assombro. Depois de um tempo,
tudo voltou a normalidade. A sanidade deu lugar a realidade; o torpor
fragmentou-se com a chegada do vento, permitindo então, a visibilidade das
recentes cicatrizes marcadas na derme. Definhou-se o sonho guardado.
Enxergá-la por um olhar frio, calculista, sem nenhuma
emoção, foi a maneira encontrada para não se cometer nenhuma injustiça.
Arrepender-se de certos sentimentos, de certas convicções – jamais! Aos poucos
as interrogações eram respondidas e as
certezas tornavam-se sólidas como concreto. Na lâmina da lança surgiu, uma nova
esperança. Com o feitiço desfeito, não havia mais o medo.
Um olhar brilhante, ao longe, fazia-se notar. Era a certeza
de um sentimento, semeado aos poucos, cultivado por afagos e gestos
verdadeiros.
No negrume da noite, a chama azulada
da vela enfeitava os corpos. E no levantar e abaixar da chama, pensamentos
surgiam revelados pelas pupilas dilatadas, corações acelerados e membros
contraídos. Verdades brotavam no olhar como mágica espiralada trazida por
anjos. Na ponta da noite, a finitude mascarou o que antes era escuridão. O dia
clareou a paisagem, dourou a alma e abraçou a poesia.