O sol nasceu morno. É sempre assim no outono. Ele vai
aquecendo aos poucos até o meio do dia, quando a pele sente a ardência de seu
poder. Apesar de todos os meus pesares, o outono é a estação que mais curto.
Gosto de sentir a refrescância motivada pelo vento gelado em minha cara; da
surpresa da noite estrelada; da lua espelhada nas vidraças; da manta cobrindo o
meu colo e de uma fumegante caneca com chocolate em noites mais frias. Gosto da
incerteza e das surpresas da estação - na mochila, sempre há um abrigo.
Ontem, finalizei o dia admirando, da minha varanda, a lua
crescente entre nuvens, parecendo brincar de se esconder de mim.
Quando moleque, em noites frias uma pequena fogueira era
providenciada em frente à casa de um de nós, para ficarmos sentados ao seu
redor num bate papo sem fim - podíamos ficar a céu aberto enfeitado por
estrelas, sem medo. Aliás, o medo só acontecia quando um adulto aparecia e
contava alguma história de bruxas, fantasmas e correntes. Eram inevitáveis os
olhos arregalados, a respiração silenciosa e o coração acelerado. Alívio,
somente quando o grito materno chegava aos nossos ouvidos pedindo para
entrarmos. Bendito o cobertor que servia não somente para nos aquecer, mas para
nos proteger das personagens da história ouvida.
Hoje, o sol demorou para aparecer. Culpa de uma cerração
baixa. Lembrei-me da máxima: névoa
baixa, sol que racha. Dito e certo. O sol chegou, chegando. Percebi, caminhando
nas calçadas do centro, homens e mulheres com casacos pendurados nos braços.
Tem gente que não aprende, ou nunca ouviu o dito popular. Mas quando a noite
invadiu o dia, a lua surgiu, a temperatura caiu, o vento veio manso e como
ainda estava na rua, tirei meu abrigo da mochila, entrei numa cantina, pedi um
caldo e uma caneca de vinho. Quando dei por mim, estava sentado ao redor de uma
mesa, numa conversa sem fim, com pessoas que nunca vi.
Agora, sentado em minha varanda, termino esse texto,
namorando a lua.