Estou velho demais pra morrer de amor. Mas caso eu venha morrer, por agora, que seja então de amor vivo. Que eu esteja recostado em seu ventre, sentindo a cadência de sua respiração, o calor de seu corpo, que as suas mãos estejam em minha nuca e seus lábios nos meus.
Não me conformava com o drama de alguns amigos quando a
relação escorria pelo buraco negro da vida. Considerava tudo aquilo uma perda
de tempo. O que adiantava o desespero da perda, a não ser pra perder totalmente
a razão. O amigo L entrava em desespero,
quase enlouquecia por causa de um abandono.
Descobria tardiamente que aquela que o dispensara era a mulher de sua
vida. Bebia e chorava o inevitável, chorava e bebia a triste descoberta, bebia,
chorava e me alugava madrugada adentro com suas lamurias e desesperança.
Eu era tão bom ouvinte como um bom bebedor de cerveja. Enquanto pra ele era desespero, pra mim era diversão. Sabia que em menos de um mês o camarada me
ligaria pra comemorarmos a sua nova paixão, a verdadeira mulher de sua vida
surgira das cinzas de seu sofrimento. E saíamos pra comemorar o seu novo estado
emocional. Pelo menos ele não só dividia
sua tristeza – as alegrias também eram comemoradas em copos gelados de cerveja.
Não sei como ele está agora. Perdemo-nos
no meado dos anos oitenta. Mas eu nunca
esqueci suas esquisitices amorosas.
Mas não era só ele que fazia drama por uma paixão mal acabada.
Havia outros marmanjos com a mesma síndrome do abandono. Eles me ensinaram a sofrer calado.
Eu também sabia sofrer de amor. Um bom abandono amoroso tem
que ter sua dose de desespero, sua dose de sofrimento, sua dose de lágrimas e
soluços. Um bom abandono amoroso tem que ter dia nublado, guarda-chuva preto e
travesseiro.
Falava com o vento na esperança de obter respostas. A saudade era tão imensa quanto o vazio no
peito. A dor da perda nunca foi branda –
era dor de membro amputado. Tentava viver na normalidade, mas as noites se
tornavam longas e os amanheceres frios. Era uma saudade doída, uma dor de alma,
uma dor de nunca mais. Sentia-me abandonado pela sorte. Um desafortunado temporário.
Achava que nunca iria esquecê-la. E como viver assim? Como
viver sem a presença daquela que jamais pensei em perder? Não sabia. E por não saber inventava-me; transformava a
dor e sonhos em histórias terceirizadas.
Dramas grafitados em pedaços de papel ruim. A cada abandono, nascia uma
tela abstrata e cinza. A cada abandono, uma morte esquisita. Eu também sabia ser
dramático. Ouvia músicas tristes e bebia uísque. Ah, eu também sabia morrer de amor.
Mas o tempo passa, ensina a virar a página.
Hoje, eu estou velho demais pra morrer de amor. Prefiro
morrer de outra coisa e vivê-lo até o fim.
Paulo Francisco
É um belo texto Paulo.
ResponderExcluirEu estou me separando da mesma pessoa pela 3*vez,não existe mais este desespero,mas deixa magoas,mas com o tempo passa!Tudo passa!
A pior coisa que existe é você confiar. Mas é como você descreve, nada como um copo de cerveja para esquecer tudo!!E eu adoro a liberdade!!
Adorei seu texto, combinou com meu problema rsrsr. Beijinhos.