Não quero mais brincar. Estava sentado num banco do parquinho observando o nada. Estava ali para não fazer e nem pensar em coisa alguma. Descompromissado comigo mesmo, ali fiquei, olhando sem ver. Mas uma frase aguda me despertou daquele transe provocado: ¨- Não quero mais brincar! Não quero mais brincar!¨ Todos cercaram o menino que de braços cruzados insistia na frase. Ele estava irredutível, era árvore que não envergava, e seu comportamento, fez o grupo se espalhar – eram folhas soltas em redemoinho. E ele, ali, no centro, cabisbaixo de braços cruzados. O que estava fazendo? Pensei. A brincadeira vai acabar por causa dele? Me perguntei.
Mas na vida tudo se resolve. Os meninos voltaram para o menor e tentaram convencê-lo de que não deveria fazer aquilo, porque senão eles iriam brincar de outra coisa e ele não entraria. O menino resmungou algo e balançou a cabeça numa positiva, entregou a bola que estava sendo esmagada pelo seu pé esquerdo. Ele era o capitalista – dono do capital.
Quase que instantâneo todos gritaram de felicidade e correram para as extremidades daquele campo improvisado. Soltando palavras de ordens:
- Aí, ¨cavera¨! Fica na direita... Não! Não! Gigante ( o menor da turma)fica aqui mais próximo da área. Vamos lá! Tava quanto o jogo?
Alguém grita:
- Quatro a três!
A discussão agora começa por causa do placar:
- Não mesmo! Tava empatado quando o verruga parou o jogo. Ri com o apelido do moleque e pude perceber que seus dedos tinham umas três verrugas grandes.
- ¨Cavera¨! ¨cavera¨! O menino magro e comprido corre em direção de quem lhe chama, gritando: falai aí meleca! Cai na gargalhada: meleca!? Pensei.
Eram os apelidos dos mais engraçados que já ouvira: tatuí, barata (estes eu ri e muito, eram dois artrópodes das classes crustácea e insecta, respectivamente), caroço, e muitos outros,mas dos tantos apelidos o mais engraçado foi quando olhei para o moleque com o calção laranja e que correspondia ao singelo nome de guerra: ¨Cheroso¨. O suor escorria em bicas de sua cabeça, as placas grossas acinzentadas em seus cotovelos e joelhos indicavam banho uma vez por semana, não vou comentar das unhas - impraticáveis. Tive que rir.
Todos felizes jogando depois de chegarem a conclusão de que era um outro jogo. Começariam do zero a zero. Sai dali, rindo, com a democracia afetiva entre eles.
Pensei: Não quero mais brincar! Ou começamos do zero a zero ou não jogo mais.
Paulo Francisco
Foi um grande prazer seu interessantíssimo text, OBRIGADA!!
ResponderExcluirParabéns pelas criações, talento e pelo blog. ZZ
ResponderExcluir