Dia curto.

 











Sabe aqueles dias que você não quer botar a cara pra fora do lençol? Pois é, hoje foi um desses dias. O sol chegou pelas frestas da janela anunciando que um novo dia chegara. Não estava nem aí. Virei para o outro lado e escureci o ambiente com a supertécnica de cerrar os olhos. Ao abri-los de novo, a claridade sumira como mágica. Qual foi?! Não seria um raiozinho solar que me obrigaria sair da condição dono de mim.

E na cama, a prostração abraçada com a procrastinação acariciavam-me suavemente. Coisa boa, um espreguiçar aqui, outro acolá. Uma soneca, um acordar. E assim a manhã passou mansa, delicada, como deveria ser todas e quaisquer manhãs.

Agora, com essa energia armazenada, com a alma tranquila, escrevendo esse texto no começo da noite me deu uma vontade danada de voltar pra cama. Não pra procrastinar, não pra ficar prostado. Pelo contrário. De olhos bem abertos assistir aos raios lunares entrando pelas frestas da janela entrelaçado com você.

- Que tal uma taça de vinho e muitos beijinhos nessa noite lunar?

Escolha.









O negócio é o seguinte: Estou aqui curtindo a lua, contando estrelas, sorrindo com a brisa gelada batendo na minha cara, balançando na minha rede, ouvindo músicas antigas – as preferidas- e degustando um vinho tinto que guardei por tanto tempo. E antes que você venha com aquele papo que a minha solidão é coisa de gente doida, digo que ficar aqui jogado, mandando sem medo o mundo pastar é muito bom. Ah! Quem me dera pudesse não mais procurar pelas horas, esquecer os compromissos, acordar a qualquer tempo e continuar nu debaixo do lençol, lendo os meus autores preferidos sem a preocupação se o dia vai ser ensolarado ou chuvoso.

O papo é reto: Não significa que não seria bom você estar aqui. Seria sim. As nossas conversas sempre foram leves e divertidas, sem cobranças, sem problematização. As complicações sempre ficaram lá fora. Nós dois sempre nos bastávamos. Mas no momento quero ficar aqui, egoisticamente, sem fazer porra nenhuma. Eu seria uma péssima companhia agora. Quem sabe depois?

Lembra quando fui ao seu encontro? Foi bom, diferente, estávamos à procura de algo que não estava em nós. Até voltei pra ter certeza que não estávamos enganados. Pena! O sonho durou pouco. Mas foi bom. Sem arrependimento, né?

Lembra quando a nossa viagem foi cancelada por você um dia antes de viajarmos em pleno carnaval?  Mochila pronta jogada por semanas no canto do quarto. Cê sabe que não aconteceria nada, que ele não iria ao seu encontro. Mas o medo foi maior que a aventura. Sempre que me lembro desse episódio dano a rir.

Lembra quando nos reencontramos depois de um tempo separados. Sabíamos que não iria além do tesão do momento. E por isso, a despedida foi suave, doce como uma canção.

 Para concluir: Calma! Concluir o texto. Você sabe que de um jeito ou de outro seremos eternos. Fazer o quê?! Somos assim, despudorados e felizes. Dane-se os que acham que somos sem vergonhas. Até porque somos mesmo. Por isso o vento não desgastará, o sol não craqueará, a chuva não apagará o que temos e o que somos.

Vou pra dentro. A lua foi para trás da montanha, o vinho está acabando, a música parou e o sono está chegando.

Ah! Já ia me esquecendo de dizer: Caraca! vê se para de aparecer nos meus sonhos todos as noites. Já disse. Quero ficar aqui na minha solidão provocada.

Rindo.

 

 

 

 

Incerteza


Talvez não escreva mais sobre as minhas Marias. Farei uma força enorme para que isso aconteça. Por isso começo a frase com um ¨talvez¨; pois elas são tantas que é quase impossível não as escrever. As Marias fazem parte de mim desde o nascimento. Elas permearam em minha vida entre a claridade e a escuridão.

Algumas surgiram do barro, outras eram o meu sal. Algumas açucaradas, outras éteres. Poucas foram grená, muitas foram azuis. Algumas foram minhas pontes, outras meus cais. Poucas me abrigaram, muitas me abandonaram. Algumas me disseram adeus, outras nem isso. Muitas foram a cura, poucas deixaram cicatrizes.

Talvez não escreva mais sobre as minhas Marias. Não relate as nossas intimidades, as nossas vontades, as nossas decepções. Possivelmente as guardarei na derme, tatuadas no peito, fechadas em meu coração.

Mas o que eu não posso prometer é se uma nova Maria aparecer. Certamente escreverei sobre ela, mesmo sabendo que a efemeridade é vital.

Por enquanto não escreverei mais as coisas de Maria. Fica registrado assim.